DIVAGANDO

Se falar de sentimento amoroso é pegar carona nas asas do romantismo melancólico, ou expressar no tempo e ocasiões uma energia interior, mesmo mentindo, buscando através de palavras um desejo daquilo que não se tem, particularmente, prefiro falar de amor sozinho, comigo mesmo, onde falo sem medo de ser enganado, e escuto a minha verdade avaliada, pensada e julgada à luz de minha vontade. Não gosto de dizer o que não sinto, acho que fazê-lo seria um passo decisivo na construção de um labirinto de ideias mortas exalando cheiro de cemitério das palavras usadas como epitáfios nas catacumbas dos mortos. O amor também se faz no silêncio embevecido da alma, nos recônditos mais escondidos da mente, esboroando-se em créditos mentais, indiferentemente de malabarismos linguísticos exalados. O amor, por si só, exala perfumes no olhar, desejos imensuráveis de buscar, vontades dilacerantes de conquistar, ficar, pertencer, até morrer se possível. O amor está na alegria frequente das coisas conquistadas, não cabe a inserção patológica das desconfianças, mero infortúnio. O amor não justifica-se por interpretações de cochichos ao acontecimento real, nem de meras interpretações afastadas muitas vezes da realidade dos fatos, ou qualquer outra tentativa abominável que insurja-se de encontro à manutenção da vida. Matar por amar é loucura, surto psicótico, impressão equivocada de ser dono de outrem. Todavia, reconhece-se a existência de predicados inúmeros sobre o amor relatados através de opiniões diversas sobre o tema: O amor é um não abalar-se diante de nada, resistir a qualquer dificuldade, entregar-se de corpo e alma ao amor verdadeiro. Amar é ter a vida aquecida com o fogo frio ou não da paixão. É a busca, a realização, a manutenção do prazer indefinidamente. É um viver sem limites, viver em prol de uma outra vida, é a troca de rotina do dia a dia por uma nova rotina do outro, é buscar momentos de pura alegria e prazer, é o desejo incessante do pertencer, é sentir-se querido em todos os sentidos, é acreditar no sentimento que aflora do fundo da alma e desencadeia chamarizes de emoções, é a renovação do belo a cada despertar do amanhecer, é o eriçar de pelos e o fervilhar da pele para saudar o mínimo toque de amor da pessoa amada, é a força capaz de parar a força da discórdia diante dos temporais emocionais, é o perdoar as atitudes impensadas na vida de outrem, é o ater-se ao sussurro das palavras de amor quando pronunciadas, é o ruborizar de rostos, as batidas aceleradas do coração, a secura emocional da boca, o respirar ofegante, o suor gelado das mãos, o roçar carinhoso dos dedos nos cabelos, é o jeito puro de agradar, é o emocionar-se diante de uma flor recebida, é o pensamento que voa, a lágrima que cai, é o beijo colado, o receio de perder, a vontade de ficar, é o Ágape o Eros e a alegria das concepções filosóficas todas juntas.

Paullo Carneiro
Enviado por Paullo Carneiro em 11/06/2014
Reeditado em 16/04/2016
Código do texto: T4840449
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