Framentos Mal Ditos - 1º estilhaço
Fragmentos mal ditos, a composição desordenada de fatos e idéias egoístas e casuais que expõe a incessante busca por respostas em nada realmente palpável.
Poderia dizer que é a minha escrita tomando o disforme, o não explicável e o inaceitável inconstante das palavras que vêm soltas enquanto meus pensamentos são assolados pela busca do desequilíbrio permeável de ter as idéias concatenadas, mas adversas aos meus sentimentos externos.
Acontece com todo mundo ou não, mas as coisas mal ditas não precisam de explicação, pois são sentidas pelos instantes de visão sã na loucura que temos como princípio.
É uma série de sessenta fragmentos e vou postá-los, não todos, aqui.
1º estilhaço
A caneca de café solúvel com leite em pó ainda estava cheia quando os primeiros raios de sol vieram.
Os olhos refletiam ilusão e amor. Estava satisfeita. Amor e ilusão... Sentimentos nada antagônicos. Nada mesmo.
Fechou a cortina e levantou-se para o dia de trabalho depois de passar a noite inteira desfiando a fonte como meio de pagar as contas. Os olhos arderam e a dor nas costas parecia sufocar.
A ilusão e o amor deram espaço ao momento certo de se entregar à vida e, embora o prazo expirasse, permitiu-se sentar e observar o sol nascendo da varanda do 13º andar numa rua perdida do qualquer lugar.
Sorriu e, sem medo, debruçou mais da metade do corpo no parapeito da varanda. Espreguiçou e teve a coragem para resistir ao desejo quase inconsciente de não se jogar.
Virou-se e foi se preparar para mais um dia de prisão dentro da mesmice de ser ela.
Fabíola Colares