O Tatu e o João de Barro
O João de Barro andava de um lado para outro
Esbanjando elegância, cabeça erguida
Em movimentos de vai e vem enquanto caminhava.
Passando a imagem de alguém que sabe o que quer,
Passos seguros, sua plumagem marrom e sedosa,
Mais parecia um terno fino saído da tinturaria.
Era a própria personificação da auto suficiência.
Por ali andava também um Tatu
Todo avermelhado e sujo de terra
Lembrava um operário do departamento de água e esgoto
Passos miúdos e ligeiros, mas sabia o que buscava
Porém mantinha a cabeça baixa
Seu focinho quase tocava o chão
Alheio a tudo em sua volta era como se não notasse
O exuberante desfilar do João de Barro
De repente escolheu um lugar no chão
E começou a cavar freneticamente
O deslocamento de terra provocado
Em decorrência da velocidade com que o Tatu escavava
Levantou muita poeira assustando o João de Barro
Que voou para um arbusto, e ao se refazer do susto
Perguntou ao Tatu o que era aquilo, e por quê?
O Tatu respondendo disse que estava construindo sua toca
Na qual se abrigaria em segurança
O João de Barro retrucou dizendo que não fazia sentido
Construir uma toca dentro da terra,
Principalmente o Tatu que já possuía um telhado natural
Referindo-se ao casco do mesmo
Insistindo em dizer que o Tatu já nascera com uma casa sobre as costas
O pobre Tatu se sentiu perdido e sem resposta
Mas continuou seu trabalho em silêncio
Então o João de Barro voou para o alto de uma árvore
Ouvindo o brandir das asas do João de Barro
O Tatu olhou para o alto e ficou pasmo
Viu que o João de Barro entrara em uma toca de terra
Só que construída sobre o galho de uma árvore
Não se conteve e indagou o que era aquilo
Então o João de Barro respondeu que era seu abrigo
E que ele mesmo construiu para sua proteção
O Tatu exaltado exclamou que era um absurdo
Afinal sendo o João de Barro uma ave
Sua plumagem impermeabilizada naturalmente
Já seria uma proteção na chuva
Sua capacidade de voar, uma eficiente opção de fuga
Afinal é próprio das aves fazerem ninhos
Por quê o João de Barro tinha que ser diferente
E o mais absurdo ainda, na visão do Tatu,
Era transportar uma toca de terra, do chão
Para o alto de uma árvore, um desperdício de trabalho
Agora quem ficou em silêncio foi o João de Barro
Que fique a reflexão de que há um Regente do universo
Criador de tudo e de todos, e Rei eterno
Seja o nosso olhar, de admiração e respeito
Diante das diferenças individuais com que fomos criados
Ainda que as mesmas nos pareçam absurdas
Somos apenas criaturas semelhantes
Vivendo sob a Regência de um Deus Soberano e Eterno.