Perdão 2.

Perdão 2.

Repito o texto de 28/10/2013, com algumas modificações – e, para melhor entendimento, ler “Dos delitos e das sanções” (I a VII) – www.recantodasletras.com.br .

Parece-me muito evidente que, antes de tudo, todos nós temos, vivemos e convivemos com naturais limitações quanto às nossas condutas (fazer ou não fazer). Por outro lado, mesmo que durante “alguns momentos” (que podem eternizar certos fatos), também temos alguma possibilidades de escolhas. Desta feita, não é sem motivo e razão que há a proposição que nos informa sobre a chance de nos conduzirmos com perfeição celestial - repetindo: com humildade e ciente das próprias limitações [Mateus 5,48]. Assim, se podemos causar o Bem, não importa a quem, por pensamentos, palavras e obras... mãos à obra!

Sabendo-se que há fatos negativos que podem ser eternizados (pelo menos aprioristicamente, irreversivelmente) a tendência de adoção da negatividade é fantástica quando diz-se que “o amor é infinito enquanto dura”. Essa tendência à negatividade, e suas consequências, é o que quero observar (e desmistificar) neste texto.

Lendo o Capítulo 3, Atos dos Apóstolos, a par da extraordinária beleza de Jesus Cristo, e os efeitos da força da fé Nele depositada, verifico a acusação sobre quem o crucificou: o povo, por intermédio de Pilatos.

Esta escolha, entre o ladrão e Cristo, lá mesmo, no Calvário, recebeu a graça e o perdão do próprio Jesus, quando Ele disse: “Deus! Perdoe-os, pois eles não sabem o que fazem ”!

Com sensibilidade e sapiência divinas, Jesus de Nazaré abre uma das “Chaves de Ouro” para a porta do Seu caminho: o Perdão - que pode ser conceituado como a “perda consciente e voluntária de uma violência sofrida”.

Mesmo assim, com o explícito Perdão de Cristo, é raro que não “crucifique” que crucificou Jesus – ou seja, a contraditória propagação da violência contra quem foi violento impera até os nossos dias...

Nada tendo a haver com a mera “desculpa sobre a irresponsabilidade” [v. “Dos delitos e das sanções” – www.recantodasletras.com.br], quando o violento não carece de ser submetido à dor-sofrimento, resultando na violência destinada a prevenir e combater a violência (neste milenar paradoxo), mas, sim, de tratamento em decorrência de suas próprias anormais condições, o Perdão pressupõe a predisposição íntima, o ânimo de não se sentir violentado e não indigitar culpa a quem é violento. O resultado imediato deste Estado de Perdão é a percepção e a concepção do Amor de Deus, pois não há como amar com o Coração vitimado, sofrido ou amargurado, e muitas vezes irado com a denominação de indignado, por uma violência – além disto, neste mesmo sentido, a falta do Perdão impossibilita a prática da Fé da, da Caridade, e do Amor; por outro lado, o Perdão só tem vez quando e onde está presente a violência [Mateus 6,34].

Logo, no momento em que o matavam no Seu corpo com o Seu suplício, Jesus Cristo nos dá a paz, e nos deixa a paz com o Seu ensinamento de que o Perdão o mantinha, e mantém, em Comunhão com Deus, em Comunhão com o Amor, o que pode nos acontecer (a todos) – como Exercício Diário.

Os que O Crucificaram, a começar por Pilatos, o fizeram sem ter a menor noção (consciência) de Quem se tratava... não sabiam que aquele Homem era O Santo, Aquele que veio para salvar o mundo (o mundo de cada um que O tem no Coração), e que venceria a morte, como venceu, desde que está vivo até hoje, e agora, mostrando o Caminho, a Verdade e a Vida para bilhões de pessoas, repetindo, que O tem no coração [Mateus 18,20].

Portanto, não importa o vão julgamento para apontar quem é “merecedor” do Perdão, desde que não há a medida para medir o perdoado [Mateus 7,1-2].

Ou seja, não há justificativa que fundamente a acepção (ou discriminação) da pessoa, daqui partindo o entendimento do significado de “amar o inimigo” (inimigo: obstáculo - pessoa ou coisa - que indica não estar sendo praticada a Vontade de Deus – por contraditório que possa parecer ser, não há como fazer o Exercício do Amor sem “resistência”, relembrando que todas as Potestades estão sob os pés de Deus) [Mateus 5,43-44].

O resultado disto “tudo”, é a sanha, o afã de violentar que violentou [com o nome de “justiça” – e ainda se diz vulgarmente: “a justiça dos homens falha, mas a divina não” (com a conotação de que o violento pode escapar da dor-sofrimento praticada pelos homens, mas de Deus não, Quem o fará ter dor-sofrimento pela dor-sofrimento que causou – quando o “vingar” de Deus significa fazer viver e crescer o Seu Amor )], o que é, como já disse, uma milenar contradição quando se busca prevenir e combater a violência com a violência– seja no plano individual (v. “Dos delitos e das penas” - Beccaria), seja no plano Estatal (v. “Dos delitos e das sanções” – Rodolfo Thompson).

Quem consegue adotar o Perdão no Coração, até mesmo como Exercício Diário, cria a possibilidade de ter o próprio Coração aberto, apto e hábil para que nele seja instalado o Amor de Deus (saudável tautologia, pois Deus é Amor). Assim, por exemplo, há quem tenha um ente querido assassinado e quer que o assassino sofra (é o tempo de cada um), e há quem, nas mesmas circunstâncias, ao invés de se deter e ter a perspectiva do “mal com o mal”, perdoa criminoso.

Só a Ética Médica pode expungir a espiral de violência que impera: com o amor dedicado a quem quer que seja, faça o que fizer (sem ser bucólica, ou ilusória) – que termina sendo a prática do Perdão (aumentativo de perda, perda grande, o grande perda da própria violência).

Se Jesus Cristo perdoou a todos, por que nós não devemos perdoar? Por quê? Será porque é mais fácil “atrair as atenções” pelas vísceras (ira, ódio, raiva), que tem efeito imediato e fácil de “conquistar a todos”, quando pelo Amor dá mais “trabalho”, pois que precisa de ser refletido, discernido, cuidado como aquela flor que necessita de ternura constante para viver e perdurar? A resposta parece “meio óbvia”... sem falar no medo e na tristeza...

Enfim, todas as pessoas, sem exceção, que são “o sal da terra e a luz do mundo” [Mateus 5,13-14], merecem ser alvo do Bem, da Luz, ou da Vontade de Deus – pois Deus não faz acepção de pessoas [Deuteronômio 10,17. Romanos 2,9-13], por conseguinte, merecedoras do Perdão.

Beijos com Amor.

Rodolfo Thompson. 05/11/2013.

P.s. Exercício Diário [Salmos 89,4 (90,4). II Pedro 3,8]: dar o Perdão, e esperar, humildemente, o Perdão.

P.s.2 Não desconheço a complexidade da sugestão do texto, na medida em que o “processo de violência” está condicionado (automatizado) há séculos e séculos parecendo ser imutável – no entanto, a Fé em Deus, a Fé no Amor [Hebreus 11,1], me leva à crença de que esta “montanha” de sucessivas violências que nos assolam podem ser eliminadas definitivamente dos nossos corações : [se Deus quiser (sempre) – Tiago 4,15].

P.s.3 Também não crio dilemas, e repito: tenho Fé em Deus que haverá de haver, como, é certo, já há pessoas, e vários núcleos de pessoas que se ocupam da Vontade de Deus, a atenção no sentido de que o Seu Amor deve prevalecer em quaisquer circunstâncias – com todas as nossas falhas e limitações [Romanos 12,12].

Rodolfo Thompson
Enviado por Rodolfo Thompson em 05/11/2013
Reeditado em 05/11/2013
Código do texto: T4557461
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