Sob o Brilho do Luar

O Sol começa a se recolher e ela vai ganhando evidência. Quer exibir-se majestosa como nunca, inundando a imensidão com sua aura de mistério. A Lua, dádiva divina para deleite dos mortais, fonte de inspiração para os poetas da alma, hipnotiza os apaixonados e ilumina as mais doces serenatas.

É por isso que ficamos ali, inertes, sentados lado a lado sobre a grama de qualquer lugar, por horas a fio. Nenhuma palavra, diante da certeza de que qualquer ruído alheio aos da própria noite pode comprometer a magia do momento. Palavras são desnecessárias. Bastam nossos olhares emocionados voltados para aquela beleza incomparável, nossos corpos quase colados, os sentimentos que nos unem e ela, a Lua, testemunha silente de incontáveis juras de amor.

O fascínio é tanto que ergo um dos meus braços em direção ao céu, em vão. Por um breve momento desejei tocá-la, queria poder ter todo aquele brilho entre meus dedos, ainda que momentaneamente. Queria, sobretudo, poder entregá-la a quem suspira comigo diante de tal espetáculo gratuito. Concluo, porém, que sou pequeno e imperfeito demais para ter tamanha oportunidade.

Depois de ousar obtê-la, pondero e percebo a injustiça de retirar toda aquela beleza do céu que contemplamos. Seus outros admiradores ficariam naturalmente inconsoláveis. Melhor deixá-la logo ali, ao quase-alcance de todos. Enquanto isso, satisfaço-me com as estrelas que vejo ao explorar o céu da sua boca em mais um beijo, ainda que de olhos fechados. Isto pouco importa: durante a noite, pouco se vê com os olhos, muito mais com o coração. Agora, é a Lua que nos admira e nos brinda com a sua reluzente complicidade.

E quem nos vê de longe assim, na penumbra, tão próximos e com a Lua logo ao fundo, tem a ligeira impressão de que estamos nos amando dentro dela. Um sonho que pode se tornar realidade todos os dias, até o amanhecer.

Publicado originalmente no blog pessoal "Devaneios na Ponta do Lápis": http://devaneiosnapontadolapis.blogspot.com.br/