Para Uma Obra de Arte Cujos Traços Ainda Serão Definidos Pela Vida

E te contemplarei extasiado, minha caríssima obra de arte perfeita, representação impecável do pecado proibido que nossas vontades nos permitem. Nesse eterno instante, os mais singelos e cristalinos versos brotarão em minha mente, atravessarão todo o meu ego e sairão afinadamente cantados por minha boca, sempre ansiosa pelo teu sabor, pela tua doçura.

Ainda que eu não conheça teu nome, teus traços, sei que haverá reciprocidade. Irás me admirar da mesma maneira, cuidarás de mim como tua mais valiosa obra. Enquanto pintura, ficarás alegrando minhas paredes, mas livre – sem molduras. Enquanto escultura, serás cuidadosamente colocada sobre o mais alto pedestal e polida com freqüência. Não importa que te considerem mero rabisco, uma obra fracassada. Estarei convencido do contrário, enxergarei muito além.

Quanto ao nosso contato, será verbalmente indescritível. Nada haverá a ser dito; tudo e de tudo será sentido. Corpos nus, almas despidas. O simples atrito dos nossos corpos nos momentos de intimidade gerará fagulhas de infinito prazer e plena satisfação. Porque quando meu desejo é indomável, entrego-me de corpo e alma. Foi sempre assim. Fui sempre assim.

Que o meu corpo, portanto, se faça farto banquete capaz de saciar todos os teus instintos. E que a minha alma se faça lago profundo para o teu mergulho interminável, no qual meu carinho será o ar que te salvará do afogamento.

- Publicado originalmente no blog pessoal "Devaneios na Ponta do Lápis": http://devaneiosnapontadolapis.blogspot.com.br/