A PELÍCULA MÁGICA DO AMOR
Há que se ter um cuidado todo especial em qualquer relacionamento, pois todos eles começam com uma magia também toda especial.
Essa magia se traduz como uma película fina através da qual se passa a ver o outro e o mundo que nos cerca. Na verdade é uma película mágica que se interpõe entre os casais que se relacionam. Essa parede permeável é um filtro que nos traz a tolerância, a compreensão, é o filtro que nos faz ver o outro com os olhos complacente do amor, que nos faz aceitar o outro como ele é.
Mas esse filtro tem os dois lados. Essa película mágica filtra numa e noutra direção os defeitos de cada um, e deixa passar o que é de positivo, de bonito e de bom para o deleite de quem está do outro lado, embora não tire a consciência de que os defeitos existem de cada lado e que estão lá, as vezes a espera de correção, as vezes incorrigíveis por fazerem parte daquele ser.
Mas, um dia, por descuido, fere-se essa membrana e o buraco que surge torna-se um ponto de contaminação. No entanto, mágica como é, a película se cura. Sua cicatriz não pode mais permear as virtudes mas, tão somente, fixar os defeitos. Se o descuido permanece, a película vai perdendo sua mágica para, aos poucos, transformar-se em um muro de estrutura forte através do qual a comunicação se torna impossível senão e somente por sobre o mesmo ela se faz conectar. As virtudes de um e que eram o deleite do outro e que tinham trânsito livre através da película mágica, agora, só pode ser alcançada por meio do esforço de se pular o muro que aos poucos foi erguido pelos descuidos do dia a dia e que a cada dia cresce como se vida própria tivesse adquirido.
Mas, esse muro também tem uma mágica, ou melhor, uma antimágica. Ele é formado pelos defeitos de um e do outro. Os defeitos admitidos e aqueles que não puderam ser assimilados, todos que foram vistos e sentidos pelo ferimento que o descuido causou à película mágica dos dois, e que agora agarrados em trama constituem tal muro. A partir daí, os defeitos são percebidos de forma clara e quase sempre inaceitável, e como uma bola de neve, faz crescer cada vez mais o muro da separação.
O ferimento causado parte normalmente, ou quase sempre, de um dos lados enquanto o outro lado tenta consertar o estrago em nome de tudo que há de bonito ainda pra se ver ou sentir. Mas, alguns estragos são tão dolorosos que só uma cicatriz de trama emaranhada como queloide pode fechá-los. E uma reação em cadeia toma espaço na destruição da bela magia que aos dois havia tomado o coração e a alma.
Há então que se arrancar das profundezas da alma, com todas as dores, o mínimo discernimento para, diante dessa terrível demanda, conseguir avaliar o que de bom ficou e mensurar a possibilidade da destruição de medonha barreira que tanta dor e escuridão traz a esse relacionamento que um dia foi tão eterno.
Lançar mão de marretas para a destruição desse muro que se tornou espesso é uma ação de iniciativa de quem feriu a película mágica. Entretanto, quantas vezes se vê uma única marreta, apenas em um lado da barreira, soar e muitas vezes desesperada suar seu próprio sangue na tentativa de destruição de tão pesada barreira que ao coração esmaga. Destruição para se renovar numa nova construção mágica, mas que quase sempre se torna uma ação frustrada ou mesmo impedida de continuar.
Bom seria que os dois lados, mesmo sabendo que resquícios ficam quando uma magia tão forte que a natureza nos proporciona é quebrada, pudessem trabalhar nessa reconstrução da tão bela película do amor. Cabe, entretanto, perceber que a vida é o bem maior e que continua seus passos na direção do aprimoramento e que Deus, dono e criador de todo esse universo, nos reserva tantas películas mágicas quantas forem necessárias para a nossa plena felicidade nesse mundo de grandes discórdias.
“Que o amor seja eterno enquanto dure” já dizia o grande poeta.