O Trem da vida
A vida é uma viagem…
Alguém já escreveu, que a vida se compara à uma viagem de trem e eu penso que ela tem razão.
Então, alí estava àquele menino para pegar o trem...
Sabia que a viagem seria um pouco longa, tudo seria novidade para ele.
Ao entrar no vagão percebeu que havia poucos lugares e sentou-se no primeiro assento desocupado.
Com o transcorrer da viagem, percebeu que havia outros lugares desocupados e acomodou-se em outro, pois não estava se sentindo muito confortável ali. Viajou assim, por uns bons pares de meses.
Em certa altura da viagem, uma certa menina de cabelos loiros, olhos azuis, semblante alegre, vinda das bandas do sul, também embarcou no Trem, em um outro vagão. Sentou-se num lugar que lhe pareceu melhor, já que não tinha muitas opções de lugares vagos.
O Trem deu partida e seguiu viagem. Mas àquele menino, continua insatisfeito no novo lugar e resolveu procurar um outro no vagão da frente.
Encontrou uma cadeira com um assento desocupado, do lado do corredor, não era o preferido dele, gostava de estar do lado da janela para apreciar a paisagem, mas resolveu ficar ali mesmo.
Logo percebeu que ao seu lado, na outra cadeira, também do lado do corredor, havia uma menina muito bonita – era a tal menina vinda das bandas do sul.
Seus olhos adquiriram um brilho cintilante, seu coração ficou à bater em descompasso, sua alma a sorrir, diante da beleza daquela linda menina de sorriso fácil e semblante alegre.
Não estava se contendo, tamanha era a êxtase de contentamento dentro da sua alma e assim, procurou logo uma maneira de puxar assunto e acabaram por se apresentarem. Nascia ali, a história de Tom e Mel.
Seguiram viagem por um bom tempo ali próximos e um cuidando do outro. Em dado momento, a Mel resolveu mudar de cadeira, apesar da companhia do novo amigo. Resolveu mudar de vagão, juntamente com as amigas que acabara de conhecer, pensava que no outro vagão ficaria mais bem instalada.
De tempos em tempos o Tom ia visita-la. Numa dessas visitas, a Mel não lhe deu a costumeira atenção, tinha encontrado novos amigos e ele se sentiu carta fora do baralho, acabou se retirando logo. Ficou tão chateado que resolveu que tão cedo voltaria ali, ela não precisava mais dele.
Por sua vez, ele também não estava gostando daquela cadeira e resolveu procurar um novo assento em outro vagão. Acabou encontrando, era uma cadeira mais confortável, ficaria agora bem mais distante da Mel, aliás, ficariam nos extremos.
A viagem transcorria sem maiores novidades, cada qual seguindo sua vida. Foram alguns meses sem se encontrarem.
Certo dia, numa tarde-noite, o Tom se surpreende com a visita da Mel. Ela havia se desentendido com as novas amigas de viagem e foi procurar o amigo. Apesar de não se falarem já algum tempo, mas ela confiava mesmo era no amigo. Disse a ele que queria mudar de lugar, não queria mais viajar na companhia delas.
Na cadeira dele havia um lugar vago, ele a ofereceu, que prontamente foi aceito por ela.
Daquele instante em diante para os dois, a viagem teve um colorido diferente...agora estavam ao lado do outro, onde poderiam cuidar, zelar do outro.
Da janela, podiam ver o horizonte... a paisagem a passar depressa... ainda podiam apreciar os pôr-do-sol, os arco-iris, a chuva, uma rosa, tudo...a vida se fazia canção.
Estavam na flor da idade, no ápice da juventude, no glamour universitário, logo seriam profissionais da área. Mas para eles na verdade, isso não importava muito, importava está ali, concluir os estudos, e ter sempre a companhia do outro, dividindo suas vidas, dividindo sonhos...
Foram dias felizes... dias inesquecíveis, que marcariam suas vidas para sempre. Os dois ficariam tatuados eternamente no coração do outro.
Mas como toda viagem tem seu final, a deles não poderia ser diferente, iria chegar um momento em que teriam que se separar, a não ser que a vida os unisse para sempre, o que não ocorreu.
Então, estava chegando a hora deles se separarem, o Tom iria descer na próxima parada, onde faria baldeação, pegaria outro trem.
Desde o momento em que ele se atinou que na próxima parada iria descer que a tristeza começou a tomar conta do seu ser...iria separar daquela doce criatura que iluminava a vida dele. Era tanta coisa guardada para dizer a ela, mas lhe faltava coragem, assim, resolveu escrever uma carta, entregaria ao descer. A tristeza era tamanha que nem vontade de conversar tinha.
Ela por sua vez, parecia que não havia atinado para a despedida, tamanha a naturalidade descontraída em que se comportava.
O Trem começava a diminuir a velocidade...o seu coração começou a bater em descompasso, o momento crucial chegava de vez, a separação...logo escutou o barulho dos freios...nesse momento o seu coração batia aceleradamente, parecia que iria sair pela boca...
Chegava a hora da despedida. Nada de beijo, nada de abraço, nada de uma despedida mais calorosa... apenas um aperto de mão e um tchau...
Pegou as suas coisas e antes de descer, lhe entregou um envelope e disse: é pra você ler depois e desceu.
Ficou ali parado, na plataforma da estação, vendo o Trem se afastar. Ainda pôde ver pela janela o aceno de mão dela, ainda com a carta na mão.
Não deu pra segurar sua tristeza, as lágrimas banhavam seu rosto...as pessoas passavam e o via chorando, com o olhar perdido na distância por onde o Trem ia sumindo, logo percebiam que o motivo daquele choro era de alguém que partiu.
A Mel seguiria viagem por um bom tempo até na próxima parada, onde também faria baldeação, pegaria outro Trem.
Imediatamente que o Trem partiu, ela tratou de abrir àquele envelope, estava curiosa...
À medida que seu olhos iam devorando os escritos, seu coração aumentava também as batidas...Foi naquele instante que ela caiu na real, percebeu que àquilo não era um até logo, era uma despedida...
Um nó se formou na em sua garganta...não era mulher de chorar, mas seus olhos ficaram marejados de lágrimas e a tristeza bateu forte...Foi naquele instante também, que ela percebeu que àquele menino significava muito mais que ela podia imaginar...
Nem lhe deu um abraço de despedida...mas agora era tarde...A vontade que teve foi de voltar o Trem...e lhe dar um abraço, dizer o tanto que ele era importante pra ela...mas agora era tarde...
E assim, cada qual seguiu seu caminho levando o outro no coração...na alma...nos pensamentos...