Um Título Que Não Chama Atenção
Cachos dourados e olhos castanhos. Seis de idade, mas seu corpo aparenta ter quatro. Assistia o mundo em silêncio. Introvertida, analisava expressões e conversas. Estava vivendo onde não desejava.
Sentia saudade de sua casa de palha. As paredes úmidas não a acolhiam. A altura do sétimo andar a impressionava.
Como seria voar? Melhor se afastar...
Possuía uma percepção diferenciada. Sua vozinha estridente sempre fora abafada. Ora, qual a importância de uma criança descabelada? Vou brincar...
Ganhava ursos de pelúcia e bonecas, mas não era disso que gostava. Gostava de luzes, sons, texturas diferentes e raras. E isso nunca revelou a ninguém. Gostava de assistir ao que se passava no antigo televisor enquanto estava deitada no frio assoalho de madeira, gostava de dar altas gargalhas, até que a censuraram, então ela parou de rir e passou apenas a sorrir.
-Papai do céu, o meu papai não gosta de mim e a mamãe quase não tem tempo livre, mude isso, por favor.
Hoje as flores estão brotando, amanhã as folhas estarão secas na calçada.
Calada recebe a notícia de que terá um novo papai. Agora oito anos tem.
Sabia de histórias omitidas e não demonstrava...
Seus olhos refletiam a imagem de amor que ganhara; Um pai de verdade, quem lhe mostrou que sozinho não se vive, que lhe mostrou o quão importante era rir, o quão importante era demonstrar emoções e sentimentos. A ensinou a perdoar e seguir a vida sem dores e magoas. Um homem que fez garotinha se tornar alguém melhor e não só contemplar a dureza do inverno, mas também as cores do verão.
Visitou lugares, apreciou paisagens, degustou comidas, teve conversas infindáveis, adquiriu valores inestimáveis, ganhou conselhos valiosos. Seguiu passos, se permitiu chorar, gritar, até mesmo afrontar, mas logo pediu desculpas a sua mãe.
Flashes de lembranças visitam sem antes avisar, nos pegam desprevenidos, descabelam, comovem, nos lançam contra parede e depois jogam de volta ao passado.
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