Desabafo nº 2
Expor o que há de mais profundo em você.
É expor tudo, é expor o que você é, o que está sendo
o que está se tornando, é expor seu futuro,
seu tesouro, sua vida. Isso só se faz na primeira vez
que se ama. E se esse amor é ferido, é a ferida mais
profunda, a primeira, a que mais doi, a cicatriz mais
velha, a derrota mais triste. Tudo muda depois.
Ainda não conheço outra passagem. Mas esse é um dos
poucos portais pra outra vida. Melhor, pior, com tristeza
com outras alegrias, é essa outra vida.
A poesia da vida muda. Qualquer tristeza pode ser pior,
poucas tristezas são maiores. As alegrias são temerosas,
são outras alegrias. São como diamante.
Há medo e muito valor. Parece haver pouca esperança,
mas há mais. Todo dia se olha o sol, nascer e se pôr,
todo dia parece mais igual, e todo dia se espera algo
novo, a outra nova vida, o outro grande portal.
Se caminha como um moribundo. A crença é apenas na luz.
O escuro é conhecido, mas se caminha nele, com uma certa
luz própria, a mínima para não se perder sem volta.
Caminhando se encontram espelhos, e no espelho se diz
"Quem sabe...". Reflexos pra si mesmo.