A Will.
Após as tuas palavras, cumpridas assim como enunciação de um destino tão óbvio
Cismo em vir aqui neste papel, a grosso modo, numa embriaguez crua, quase bélica
Onde sentimentos e razão travam, sucessivamente, ameaças e desvarios
Tenho dito que nestes dias não fui eu mesma
Ausência infinda daquela que escreve, que grita nas linhas, entrelinhas, estrelas
Ausente de mim mesma há algum tempo desde que tuas mãos passaram a escrever-me
Desde que tua voz chegara, assim, clamando minhas essências e preenchendo minhas urgências de tempo nestas horas que deixo escapar...
Ainda não falei-te dos meus sonhos maiores, do meu passado tão sem vida, dos momentos em que implorei a Deus o envio de muitos anjos...
Ainda não dei-te meus segredos, talvez não os desse nem por um punhado de ouro
Quem sabe, já que o ouro pereça, prefira eu beijos e odes
Estas epopeias que a vida intromete-se a inscrever em nossas carnes.
Ouso dizer-te, nesta hora ainda tão inoportuna, que antes de ti não haviam luzes...
Procurei acendê-las, sequer encontrei um céu a me cobrir de estrelas e lua...
Adormecia gelada de emoções, amanhecia esgotada por tanto sono perdido em abafos e lágrimas
Dos meus erros, poucos amores e presságios sabes tão pouco!
Mas encontrou-me tão infantil e ora, assustadoramente, madura
Encontrou-me, assim, em momentos de escolhas, desejos precisos, transmutação de vida, transcendência imposta pelos céus
Encontrou-me, não só, mas bem acompanhada por mim mesma
Logo eu que sempre fui avessa a essa espécie de solidão que nos torna mais homem, mulher, alma e corpo...
Tão claramente eu... qual a teus sonetos e estrofes, comum a tua alma, onde nas mesmas janelas do tempo, olhando as distâncias perdidas no espaço do meu próprio ego, pude precipitar a Deus o meu tão grande medo, meu maior segredo, rogando em preces:
“Não esquece-te, meu Senhor, da única benção que peço; um Amor que, assim como o fogo, possa aquecer meus versos, possa iluminar meus caminhos... Que cubra-me de tudo quanto possa ser indulgente e misericordioso aos vossos olhos. Que venha para me ensinar a amar mais que a mim mesma. Que esteja ao sol, ao vento, às tempestades ao meu lado e que leve-me, mesmo na imperfeição dos meus atos, a conhecer Vossos caminhos. Não esquece-te, Meu Deus Vivo, que há tempos peço e que tempos esgotam-se ao nada. Nunca faça-me rica, antes amada! Nunca capaz de luxos, mas doadora de tanto e todo Amor que puder. Não esquece-te que, embora não mereça, preciso e creio!”
Então, quem sabe Deus tenha tido certa compaixão do meu heroico ato de pedir, das súplicas tão sinceras, dos meus versos tantas vezes grifados entre linhas. Quem sabe, no momento mais preciso, nesta oportunidade de solidões, tão rara a mim, Deus soprou aos céus uma nova história.
Apenas isto tudo para dizer-te que, assim, como a Palavra do meu Deus cumpre seu trajeto tão claro, assim, veio de ti a salvação dos meus dias...
Da tua voz, dos teus cuidados, da tua generosidade desmedida em me acariciar com palavras, Deus pôde tocar-me e abraçar-me para que a perdição dos meus dias não se consumasse, para que mais e mais tempos fossem-me oferecidos nesta missão que nem eu mesma ainda entendo, mas que já aceito com gratidão.
De ti, todo o Amor, embora distante em pele material, perecível; de ti, os ventos respondendo aos meus rogos tão juvenis; de ti, a luz que antes não se acendia; de ti, a música da qual podes não conhecer todas as notas...
Conheçamos juntos então, porque música é segredo divino... Tu sabes a letra, eu a melodia dos teus versos.
De ti, tudo, tudo e tão grande este mundo que parece oferecer-me mesmo ausente, ainda, de mim!
Quem sabe, nestas horas, quais confesso-te meus medos em não nos fazermos um só, justamente por isso... A oportunidade desperdiçada da letra e da melodia.
Procurei-te por tanto tempo e, justamente nesta canção que nunca soubes compor, pude te encontrar... E nestas palavras jorradas ao destino de tantos e tantos anos, podes me ver, agora, nitidamente.
Não sei mesmo se seremos homem e mulher, muitas almas em uma só, muitas vidas em apenas uma vida, mas principio a dizer que, pelos mistérios de Deus, já somos algo estabelecido não pelo acaso, tampouco por sorte, mas por precisão da vida e da morte. Destas coisas que nunca poderemos explicar, por mais filósofos e cientistas, por mais bruxos e andarilhos, por mais humanos e espiritualistas...
Mas serás magicamente lindo para mim, se ao meu lado, puder estar... Para que sua missão seja a minha missão e seus dias sejam contados aos meus... Para que sua fé seja a minha fé e suas palavras, somadas às minhas, sejam cifradas e decifradas, para que minha música seja tua música em todas as notas e escalas, em todos os tempos, em todos os cantos, em todas as vidas. Até alcançarmos a Deus!