FICA COMIGO
No início da madrugada de 10 de novembro de 2012
Fica comigo. Não me abandones aqui, longe de mim e de nós. Não me deixes aqui a morrer de fome e de sede de mim e de nós, assim. Fica comigo, fica perto de mim, que te estou sempre por perto, que te estou sempre junto, aí, onde tu estás, mesmo que assim invisível, mesmo que assim sem palavras... Não as podes ver, mas estão aí. Mesmo sem palavras visíveis, estou sempre junto de ti, sempre, sempre, sempre. Fica comigo, do único jeito que nos cabe, do único jeito que nos permitimos ficar, o único que nos permanece lícito: um dentro da alma do outro.
Fica comigo, do único modo que nos permanece lícito, que as múltiplas honras e lealdades e interdições de toda espécie, no real imediato e por ambos os lados, nos têm proibido, desde sempre, qualquer outro caminho. Fica comigo. Não me deixes sozinha, aqui, que eu nunca te deixo sozinho aí, NESSE TEU OUTRO RECANTO. As alianças invisíveis, já há mais de 20 anos, a despeito de nós próprios, de tudo e de todos, nunca as tiramos dos dedos da nossa mão esquerda. Nunca as tiramos. Por que, agora, as haveríamos de tirar? Salvemo-nos. Fica comigo. Simplesmente. Sem mais gestos de mistérios.
Fica comigo. Recebamo-nos em nossas respectivas almas, como sempre, e sem as reservas e pavores que acumulamos, que nos fizeram acumular, e que tanto nos têm matado, há tanto tempo. Fica. Preciso ressuscitar-me as músicas. Preciso ressuscitar-me os livros. Preciso ressuscitar-me as minhas palavras. Preciso ressuscitar-me os meus silêncios. Preciso olhar a minha e tua, a nossa paineira, com meu olhar vivo. Ressuscitemo-nos a vida. Fica comigo.
Escrita ainda na noite de 09 de novembro de 2012.