LIBERTA-ME DESSA ACUSAÇÃO
No início da madrugada de 24 de outubro de 2012
Quero te puxar para a roda da vida, para a roda das crianças. Não te deixas levar, que a criança está morta em ti.
Dizes que eu a matei, que eu matei a criança em ti. E repetes, e repetes, e repetes que fui eu, que fui eu que matei a criança em ti.
Em vão estendo as mãos para trazer-te à roda da vida, à roda das crianças. A criança em ti me olha com olhos mortos e me acusa de sua própria morte. Ela me acusa, há tempos sem fim e, há tempos sem fim apaga as luzes dos olhos da criança em mim.
A criança em mim está sempre a morrer pela acusação, há séculos, dos olhos mortos da criança em ti.
Uma prece pela criança em mim que vive a morrer; uma prece pela criança em ti, a criança em ti que, segundo o que repetes e repetes e repetes, ainda quando te calas, morreu pelas minhas mãos.
Homem, liberta-me dessa acusação. Ajuda-me a ajudar-te no renascimento da tua criança em ti, para que eu possa ajudar-me no renascimento da minha criança em mim. Se não ressuscitares a tua criança, o que vai ser da minha fênix?
Na noite de 01 de abril de 2011; republicação no início da madrugada de 24 de outubro de 2012