RELATO DE EXPERIÊNCIA

PARA PAIS & FILHOS

Às vezes, nós os pais deixamos de viver as nossas vidas pela vida dos filhos. Preocupamo-nos em demasia e sem a mínima intenção os sufocamos com tamanhos cuidados.

Queremos o melhor para eles, até achamos que eles poderiam trilhar da mesma maneira os caminhos de coração, mas cada um tem sua missão e o tempo corre, mudando as oportunidades de lugares.

Um dia... ouvi meu filho dizer: “Mãe sou adulto, sei me virar e minha vida é problema meu. Estou me sentindo comprimido pela senhora. Por favor, cuida de sua vida minha mãe e me deixe viver a minha em paz. A senhora pega demais no meu pé”. Aquelas palavras doeram muito, principalmente porque vieram num momento em que eu me sentia fragilizada. Chorei muito, pois tudo o que eu queria era saber se o meu filho havia feito uma boa viagem e se tudo estava ocorrendo bem para ele.

Porém, diante daquele quadro... após as lágrimas, percebi que havia verdades a serem refletidas.

Se a morte vem de surpresa e nos leva para o lado oposto da vida, nossos filhos irão sobreviver. Podem sofrer, chorar, mas as águas correm todas para o mar e não há como reter o rio da vida por motivos de perdas significantes.

É necessário continuar.

Quantas vezes queremos viver pelos filhos?

Durante vários momentos na criação dos filhos, nós os pais, até pensamos em trocar de corpo com eles. Somente para trazer alívio e segurança. Mas não podemos. Crescer inclui riscos, alguns danos e não há como viver nem, como aprender e até mesmo mudar, pelo exemplo do outro.

Sei que existem muitos pais que não estão nem aí, para a criação dos filhos. Mas, há aqueles que se doam incondicionalmente por eles.

Vi muitas mães saindo para se divertir e deixando seus filhos presos, sem estrutura alguma e houve ocasiões em que, eu e meus vizinhos socorremos crianças nessa situação com alimentos e cuidados.

Os vi crescendo, muito diferente dos meus. Sempre fui uma mãe presente e jamais saí sem algum deles.

Para essas crianças, faltava-lhes tudo e o principal: um colo de mãe, um carinho de pai. Porém, para o prazer esses pais não tinham limites e certa vez, ouvi o que um deles falava para um amigo: “A vida é curta e meus filhos vão ter tempo mais do que eu, por isso que vou aproveitar, enquanto há tempo, eles que se virem, nenhum morreu até hoje”.

E esses pais continuaram no passatempo: Passeios, carnaval, festas de largos, etc., sem sequer, se responsabilizar pela instrução, pelo zelo dos que havia colocado no mundo.

Muitos desses filhos se perderam nas drogas. Uns morreram cedo demais.

Isso mudou o comportamento de muitos desses pais, que se evangelizaram temendo um mal maior.

Muitos também... assumiram um papel de honradez na vida. Mudaram o destino de todos na família e tratavam seus pais com total respeito e amor. Coisa que me intrigava... vê-los cuidando dos pais como se tivessem sido criados num lar de calor e extrema ternura.

Então, me deu margem ao pensamento de que tudo caminha solto, mas depende do quanto predemos as preocupações nas nossas mentes.

Quanto a mim, tive uma vida de sacrifício e improvisações. Dificuldades diversas e um esposo que nunca se importou com a educação e a moral dos filhos.

Foram quatro. Todos eles eram homens e eu era um faz de um tudo, tanto na casa como na vida de cada um.

Lembro-me de colocá-los para o corte dos cabelos, limpezas das unhas, ouvido e sempre todos vestidos e calçados. Andavam limpos e a minha dedicação chegava a ser exagerada.

Ainda de sobra, tinha que cortar o cabelo da sogra, do cunhado, do esposo e do sogro.

Se na casa algo faltasse ou quebrasse tudo eu tinha que resolver. Desde a hidráulica, parte elétrica, manutenção da construção e improvisação dos móveis. Costurava a roupas dos mesmos e creio que somente não fazia os calçados por encontrar dificuldade na matéria prima e customização. Também, toda compra da casa era feita por mim, tive que carregar por quilômetros muito peso nas costas, na cabeça... chegando às vezes, a ter que parar para recobrar as forças e continuar.

Praticamente eu fui o homem e a mulher da casa e ainda ajudei na criação de dois netos.

Os filhos cresceram num ambiente impróprio. Lugar de riscos e sem os principais valores existenciais. Porém, todos eles são para mim um motivo de orgulho. Pois, nunca tive de ir numa delegacia e nem minha humilde casa foi invadida por policiais. Nesse bairro todos eles foram motivos de exemplo.

Ao se falar dos filhos de Cristina, se ouvia como ela consegue ter filhos assim?

No entanto, a corrida para que as filhas ficassem ao lado deles foi crucial para mim.

Três deles permanecem nesse lugar. Não consegui fazê-los perceber que o homem é produto do meio, mas que se tiver no âmago uma força de vontade maior, consegue se livrar e ter uma vida de melhor qualidade.

Não quero com isso desvalorizar o bairro inteiro, minhas noras... jamais. Aprendi muito morando ali. E há pessoas de grande valia. Porém, acho que pensar grande é obrigação, para não ter uma vida pequena nem sofrer consequências.

Bem, por motivo de força maior eu consegui sair desse lugar. Sempre quis e não me cansava de pedir a Deus por isso. Também, creio e sei que muitos que moram lá, vivem querendo sair, mas não conseguem.

Hoje estou a 2.440 quilômetros de distância.

Mudei de realidade, de casamento e percebo que nada é difícil quando existe a disposição para ficar atento quanto à possibilidade de mudança.

De volta a tema referente ao texto, mudei também quanto, aquela idéia fixa de que meus filhos precisam de mim enquanto eu viver. São todos maiores... e a princípio, quando vim para a cidade de Campo Grande, se revoltaram com a minha atitude. Atitude que fiz pensando em meus valores, em minha saúde.

Morei no Nordeste de Amaralina por 45 anos. Lá eu sofri muito com situações de difícil posicionamento na vida. Faltava reconhecimento familiar, compreensão e o bairro muito violento.

Todos os meus filhos estavam casados, vivendo suas vidas e sem se interessar por mim ou sequer dar atenção.

Era incrível... eu adulá-los para saber notícias. Quando vinham a minha casa era sobre a condição de alguma necessidade. Três moravam perto e demonstravam não haver tempo algum para os pais.

Um dia pensei preciso urgentemente MORRER.

Sim, existe morte sem enterro, sem velório, sem caixão.

E no dia 10 de março decretei minha morte. Queria ver como as coisas andavam sem mim. Porque tudo teria que ser resolvido pela minha pessoa.

Vim para Mato Grosso do Sul. Para os braços de um homem que abraçou minha causa e compreendeu meu coração. Chorei demais de saudades, quase morri de verdade. Meus sentimentos ficaram em frangalhos. Saudades de minhas netinhas, de meu neto e de coisas que havia deixado para trás. Cheguei numa terra estranha, fui recebida com pouca polidez e tive que ouvir coisas que não foram de bom tom para quem estava frágil.

Na mente muita coisa se passou... mas quanto a um retorno, jamais.

O homem que foi me buscar se sentiu muito perdido. Queria soluções sem mágoas, mas não sabia como. Queria aliviar minha alma, mas era sua filha quem estava também em jogo.

Moramos oito meses todos juntos. Cinco pessoas, foram dias difíceis, mas ainda assim, melhor do que tive que enfrentar em Salvador.

Agora... moramos somente nós dois e, posso dizer que valeu a pena toda aquela circunstância.

Nada nunca é fácil.

Meus filhos continuam suas vidas. Não me ligam, não os vejo nem pelo computador, que todos tem acesso.

Cortei laços com meu ex-marido, porque nos magoávamos muito e eu quero espaços de paz.

Não vejo meus netos, minhas netas. Todos os meus filhos possuem celulares, mas a desculpa é estar sem crédito.

Eu é que sempre ligo para eles. Sou ainda a mesma mãe, os amo muito, sinto saudades que doem muito.

Dois deles falam mais abertamente comigo. Riem e não os sinto magoados. Já os outros dois, falam o necessário numa frieza que em nada condiz com o tratamento que eu dei e sei que foi bom quando eles eram menores.

Lembro-me de sentar na cama às dezoito horas para contar estórias, todos de pijamas feitos por mim. Lembro também, de andar de quatro pela casa fingindo ser o cavalo deles e dois deles montavam em mim e nós revezávamos, para todos poderem brincar. Fim de semana eu os levava para o parque, para a praia e o pai pouco saía com eles, quando saía queria voltar de imediato.

Dos discos de vinil que comprava, dos brinquedos de pano que costurava quando não tinha um comprado, das festinhas de aniversário que nunca deixei passar em branco, de São João, do Natal, Ano Novo...

Perguntem se um dia eu tive uma festinha de aniversário? Nunca, mas nunca deixei de fazer até para o pai que não merecia.

Meus filhos viam um casamento estagnado, falta de respeito, maltrato e como o pai me explorava. Via minha saúde indo embora, meu sofrimento, minhas lágrimas. Também a situação que era visível de não poder mais carregar tanto peso sozinha. Todas as compras eram passadas por mim, feitas por mim e era desolador o peso nas costas, na cabeça e na alma. Eu ouvia meus vizinhos rindo e falando: Onde anda seus filhos que você tanto se sacrificou? Cadê seu marido que nunca te ajuda?

O meu filho mais velho quando tinha 16 anos me disse: “Mãe como você aguenta isso?”, ao ouvir o pai falando de uma mulher por quem estava apaixonado. “Dayane”. Mas eu nada podia fazer, tinha filhos adolescentes e precisava direcioná-los, precisava ser exemplo e não me senti destinada a realizar um divorcio. Meus filhos estavam em primeiro lugar.

Um dia eu e o pai deles fomos para Ilha de Maré, uma ilha em Salvador. Fomos num restaurante e ele bebeu um pouco e me confessou que estava amando mesmo e que se ela o quisesse ele não estaria comigo. Nesse dia meu casamento acabou. Chorei tudo e aquele carinho saiu de mim, somente fiquei casada por amor aos meus filhos, nada mais.

Esse mesmo filho que me aconselhou a sair de casa, em 2010 me taxou de adúltera e que eu não deveria ter largado o pai, que o seu filho que eu amo, mas que ainda não o conheço pessoalmente, nunca iria ter contato comigo. Eu quase morri, mas sobrevivi.

É por isso que bato tanto nessa tecla. Pais não percam vocês de vista, por causa dos seus filhos.

É para amá-los eternamente, mas não deixem que eles acabem com a alegria de vocês. Isso no caso de filhos dispersos.

Vivam, se tiverem de mudar quadros em suas vidas: Mudem.

Eu me anulei muito e não me arrependo, faria tudo de novo por causa dos filhos, mas também, criei asas de liberdade. Perdi muita coisa importante, mas não me perdi e nem permaneci no cativeiro. Posso até ter encontrado outro tipo de cativeiro, mas tem algo de diferente nele, tem algo que me faz bem. Também, se não for de encontro com minha alma, posso reverter quadros novamente. Coragem não há de me faltar. Tenho Deus comigo.

Vejo,

observo muita gente presa as correntes do destino por causa dos filhos e netos. E os filhos e os netos nem estão de fato se importando com esses pais ou avós.

Muitos morrem ajudando filhos criados e cavando suas próprias covas.

Criaram os filhos e esses, localiza nos pais uma creche eterna.

Os pais não possuem tempo pra respirar, muito menos pra se diverti, trabalham muito mais que antes e um dia... chegaram a pensar: “Tomara nossos filhos crescerem para nos ajudar, para que tenhamos disponibilidade para qualificar nossas vidas”. Que ilusão. Grande ilusão. Morrem no meio do caminho sem ter dos filhos ternura, reverência e carinho.

Vejo avós em supermercados, ruas com neto no colo e compras... na expressão: ar de cansaço, preocupação... muitas possuem varizes, pés inchados e o suor na testa, configurando a grande labuta do seu dia a dia.

Filhos, não são assim que vocês precisam tratar seus pais.

É o bem mais precioso que possuem e é lei honrar, respeitar. É direito de vocês, considerar eles, para que seus dias sejam dados em acréscimo. Esse acréscimo não significa dias a mais de vida, mas longanimidade. Abundância em tudo e prazer de viver com a consciência tranquila.

Pais, se dêem mais valor. Se amem aos extremos. Seus filhos não vão se machucar se tiverem coragem de dizer: “NÃO”, algumas vezes.

Vocês são os pais e não podem permitir ficar no lugar dos filhos. Ou serem manipulados por eles. Precisam usar de autoridade com plenitude de espírito. Pois, Deus colocou vocês pra que agisse como ele. Amando, cuidando e construindo pontes onde o caráter alcance nível sempre elevado.

Mas, se os filhos fogem dessa realidade, não se culpem, pais. Deus executa o resto, basta CONFIAR e pronto!

Fim desta, Cristina Maria O. S. S. – Akeza.

Akeza
Enviado por Akeza em 16/09/2012
Código do texto: T3885206
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