ENFIM SÓS
 
Oi, querido, com licença. Desculpe incomodar.

Vim devolver as algemas. Elas não combinam com os meus pulsos.

No armário do banheiro, deixei analgésicos e antiácidos. Pode ficar com eles. São ótimos contra dores e azedumes.

Na gaveta do criado-mudo, você - cuidadosamente  - protegeu minha beleza dos olhares alheios. Por favor, devolva-me.  Ela me pertence. Pretendo vesti-la novamente.

Nossa, vejo que debaixo dos lençóis ficou um pouquinho da minha auto-estima. Vou levar comigo também, porque este tantinho anda fazendo uma falta danada. 

Quanto às minhas roupas, dê-lhes o destino que melhor convier. Aproveito melhor os meus dias (e noites) sem elas, coberta por outro corpo.

Sei que não é delicado devolver presentes. Mas fique você com as palavras descabidas e as ofensas injustas. Elas não cabem no meu apartamento pequeno e estragam a decoração.

No compartimento esquerdo do seu peito, deixo as melhores lembranças e os momentos mais doces. Espero que sirvam para alguma coisa.

Ah! E, se quiser me procurar, por gentileza, troque de roupa. No Carnaval da minha vida, a fantasia de vítima do mundo já caiu em total desuso! 


 
Adriana Espineli
Enviado por Adriana Espineli em 19/05/2012
Reeditado em 03/09/2018
Código do texto: T3676348
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