Quando cai uma lágrima de Deus.
Em respeitável instituição religiosa, o garoto desabafava com um dos coordenadores, voz embargada pela emoção, entre soluços, dizia:
- Não quero que minha família se desfaça! Quero uma família que me ame e eduque; uma família para poder brincar, uma família que me ampare, uma família que me esquente em noites frias e me acolha e instrua na hora da dúvida...
É de cortar o coração ver uma família se desfazendo... filhos para um lado, pai para outro, mãe tomando rumo ignorado.
São nessas horas que caem lágrimas de Deus.
A base para uma sociedade ajustada é a vivência harmônica em família, pois é no seio familiar que recebemos as primeiras e principais noções de como se portar diante da sociedade.
É com a família que tomamos contato com o carinho, a sensibilidade, o respeito.
É com a família que ensaiamos os primeiros passos na arte do amor, é com o afago dos pais que aprendemos também a afagar nossos filhos.
São com os irmãos e primos que aprendemos a dividir brinquedos e o carinho dos pais e avós.
Quando uma família se desfaz motivada pela intransigência dos seus membros, não tenho duvidas que cai uma lágrima de Deus. É quando a sociedade se empobrece, o egoísmo recrudesce, a confiança se esvai, porquanto a família forma a espinha dorsal de como às pessoas irão se portar diante do mundo, da vida, do semelhante...
Contudo, se a família é a base para uma sociedade ajustada e equilibrada, uma sociedade participativa também pode fazer algo pela união familiar, dando sua colaboração para que se estreitem cada vez mais e mais os laços familiares; laços estes que muitas vezes parecem querer se desatar, perdidos no egoísmo, intransigência e até indiferença de seus componentes.
Comunidades que criam trabalhos, atividades culturais e esportivas, palestras e cursos convidando à família para comparecer reunida, proporcionando interação entre pais, filhos e demais pessoas, certamente trabalha pela construção de uma sociedade melhor, porquanto pais e filhos podem começar a desvendar nesse contato fora do lar, uma outra faceta do outro que nunca haviam percebido.
São nessas horas que os pais vêem como o filho ou filha são habilidosos para determinada tarefa, e que os filhos percebem como os pais também podem ser seus amigos e participarem das atividades que eles, os filhos, apreciam.
Nesse contato cresce a admiração e respeito que pais têm pelos filhos e filhos pelos pais, é a amizade sedimentando-se dia a dia.
É a confiança ganhando espaço, são filhos longe das drogas e mais próximos de seus entes queridos, são pais valorizando mais a família e menos os valores transitórios do mundo.
Nada é mais triste do que uma família se desfazendo, nada é mais triste do que ter pais e filhos convivendo na mesma casa sem conhecerem-se verdadeiramente, sem admirarem-se realmente.
Filhos que não conhecem os gostos dos pais, pais que não importam-se com a indiferença dos filhos... nessas horas, não tenho dúvidas que cai uma lágrima de Deus.
Lágrima de Deus, que só dará lugar a seu sorriso, quando toda à humanidade estiver convivendo em legitima fraternidade, na perfeita sinfonia de tratarem-se como irmãos, tendo como lar o planeta Terra, como mãe a vida e como pai o amor.
Por isso, pensemos em estreitar os laços com nossos familiares, pois é o estreitar desses laços em família que nos dará no futuro a condição de amar e respeitar, admirar e servir, além dos laços da consangüinidade, transformando então, toda à humanidade em nossa legítima família.
Pensemos nisso.