Nem quero saber...
Nem quero saber
Que lábios já beijaste
Que abraços já deras ou retribuiras
Quantas juras de eterno amor já fizeste
Quando isso era tudo o que queriam ouvir...
Não me importa a quantas te deste
Nem quantos corpos teu desejo visitou
Se hoje é comigo que estás atado,
Nos tênues laços de pura emoção.
Se teus sonoros eflúvios de amor e paixão
Comungam com os meus em total proporção:
Quando me mimas e dizes-me tua menina
Quando me abraças e me chamas de princesa
Quando me assanhas e gritas: "és minha fêmea"
Quando estou triste e me tratas por filha
Quando brincando me fazes tua neguinha
Quando eu, luada, me tens por tua felina
Ou quando simplesmente me chamas de Nina
Ou quando, meio nervoso, evoca a Irene Cristina...
Só não quero que outra vez me chames
Carinhosamente de tua "Raquel de Queiroz"*
Embora a admire, eu tenho um lindo nome
E não vou te chamar por nome d'outro homem...
Mesmo qu'eu de Bocage* me lembre ao ouvir tua voz.
Eu faço dos meus versos de amor que enfim se rende
A força, a mimese de um amor que te prende,
Quando em total plenitude, tu e eu somos nós...
Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 14/01/2012
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Notas sobre os autores citados:
*Rachel de Queiroz, nasceu em Fortaleza, 17 de novembro de 1910, faleceu no Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2003) foi uma tradutora, romancista, escritora, jornalista e importante dramaturga brasileira. Autora de destaque na ficção social nordestina. Foi primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras. Em 1993, a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões, equivalente ao Nobel, na língua portuguesa. Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 15 de agosto de 1994 na ocasião do centenário da instituição.
*Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805), nasceu em Setúbal, Portugal. É o mais famoso dos satíricos e o mais popular dos poetas portugueses. Sua inspiração não foi só erótica e passional; também cantou sentimentos graves, "a desesperança e o lento gosto da morte", em que atinge muitas vezes o sublime. Mas sua vida desregrada, além de arruinar-lhe a saúde, tornou desigual a sua vasta obra. É um dos melhores sonetistas da língua portuguesa.