EU SEI QUE VOU TE REENCONTRAR


Sempre que espio pelas janelas da recordação te vejo. Lépida, alegre, falante, saltitante feito cachoeira coruscante em leito de pedras brilhantes. Duplamente te vejo: abelhinha e cachoeira. O gingado dos quadris, os braços e as mãos inventando delicados gestos. A dança dos cabelos, traçando arabescos no ar. Abelhinha de vôo leve, fazendo zum-zum, em sussurros de beijo e brisa, néctar precioso, sorvido por lábios de ternura imensa. Recordo-me da tez das palavras, cachoeirando morenas pelas tardes, e roucas à noite, em matemática poesia de encanto e paixão. Com olhos de recordação te reinvento, cachoeira e abelhinha. Bem aqui, junto a mim. O hálito fresco, o riso franco, a boca modelando palavras, como se fossem acalantos soprados em murmúrio, ecos de um tempo distante. Contemplo-te cachoeira rolando pela face das pedras e alisando-as em seixos, roliços e pontudos como teus seios. As espumas brancas das recordações explodem em milhares de gotas, desenhando a tua face por sobre o arco-íris. Vejo-te abelhinha, de asas suaves, sumindo no horizonte, para além das dimensões que só mesmo a poesia pode resgatar. Meu coração se amiúda e se aperta. Mas a alma, sábia, se acalma e se aquieta. Apascento as lembranças e deito-as num remanso, dourando-se ao sol da espera lenta. Um dia, a qualquer momento, eu sei que vou te reencontrar. Aí tudo será mágico. Cachoeira, de novo, mergulhar. Abelhinha, outra vez, o mel a me adoçar.

(José de Castro, 11/01/07, da série “Poemas Adolescentes”)
José de Castro
Enviado por José de Castro em 11/01/2007
Reeditado em 03/10/2011
Código do texto: T343178
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