Que tal a sua aposentadoria, que assunto sério, hein...

Você se aposentou... O azar é seu... Ou, melhor, nem tanto, porém, se você for saudável, então preste atenção, não pare, continue como se nada tivesse mudado na sua vida, creia, você teve uma grande sorte de chegar à terceira idade, principalmente quando se vive num país onde chove até canivetes fabricados com lâminas suecas. Balas perdidas perfuram corpos jovens a todo o instante brasileiro, o trânsito alucinante é fábrica de matar. O pauperismo mata incondicionalmente nossas crianças, apesar de todas as nossas ironias com a vida, essas desgraças nos machucam e nos frustram sobremaneira... O melhor que você tem a fazer é: Pensar que você é um belo "ragaço" um efebo aposentado, porém, apenas pense, nunca aja como um, tenha consciência, você tem todos os conhecimentos imagináveis e possíveis, um cabedal de experiências ambulante, ou quase ambulante, não importa, passe a sua sabedoria a eles, aos jovens e aí estará agindo de acordo com a sua idade, tenha juízo, garoto... Não querendo ser aquele velho ranzinza, sabe... Aconselho você a não fumar mais, nem beber, já sendo envelhecido em barril de carvalho, porém, discreto, nem vou continuar neste assunto... Pois, existem mil restrições a nossa idade onusta de “profundo conhecimento”, cuidado, água você pode, e deve, se você se esquecer pode morrer de velhice precoce, pois, a sede será implacável com você, contanto que a sua fralda seja eficiente... Comida, você pode comer de tudo, se deixarem, é claro, se você quer moleza, meu... "Vá cavoucar minhoca no asfalto", ao menos é assim que se pronuncia na linguagem jovem e coloquial... Você deve ser um abstêmio inveterado, ou melhor: viciado em abstinência, literalmente falando. Na realidade, é melhor você se achar neném, daqueles que usam uma espécie de cadeirinha de se aprender a andar, com duas vantagens: ela levá-lo-á aonde você deve ir, ou aonde ela quiser que você vá, isto somente porque sou muito otimista... – Hein... - Você está entendendo o que estou escrevendo? - Senão me obrigo a fazer alguma coisa mais útil, e de terceira idade... Agora se você não tiver voz ativa, você irá se juntar a um amontoado da sua espécie, e aí a coisa fica preta... É uma resmungação só, a lamúria é completa, lá você terá tanto tempo para elogiar seus familiares, e ficará abespinhado com tanta “encheção” de saco, será que é assim que se escreve enxessão, não, acho que é enchessão, acho que esqueci, bem continuemos com... - O que falávamos mesmo? Nota-se que o escritor, realmente está prá lá de Bagdá, envelheceu mesmo, e vou mais longe, não é frustração não, até porque estou com o saco cheio de cabelos brancos, e passei frustração pela minha vida inteira, mas, o meu verdadeiro sonho eu consegui conquistar: fiquei literalmente velho... Voltemos ao asilo... Hum... Hum... Ah... sim, com tantas visitas de seus familiares, que não pararão de importuná-lo com presentes de todos os lados, mal sabendo que nós, os velhos não precisamos mais dessas coisas mesquinhas desta vida. Você está querendo saber como se consegue uma vaguinha para esse maravilhoso ajuntamento... Não se preocupe, o seu filho conhece como ninguém esse jeitinho brasileiro, talvez tenha aprendido com você mesmo, lá nos tempos idos de seu pai, que talvez lhe tenha ensinado tantas coisas maravilhosas como esta, por exemplo... Pode ser que o seu filho, não se interesse tanto em ajudá-lo, mas, pode ficar sossegado a sua nora fará de tudo para interná-lo nesse jardim do Éden... Fique descansado, você não será desamparado, não irá debaixo de ponte alguma, isso se você tiver família... É claro. Aliás, para que você não se engane, o seu Jardim do Éden, realmente fica aqui na Terra, e lá você vai se distrair e muito, lá tem a cobra mais peçonhenta da qual jamais se viu outra igual, tem frutos proibidos, daqueles que os velhos não podem comer, sabe... Bem vamos ao verdadeiro livro que nos demonstrá-lo-á... - Meu querido velhote edênico então vá lá ao livro de Gênesis:

Continua no livro:

O tempo passou

jbcampos
Enviado por jbcampos em 31/12/2011
Reeditado em 31/12/2011
Código do texto: T3415244
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