CONFORTO
Agora pouco, ainda no início da tarde, uma árvore na extremidade da rua deixou-se entremear toda pelos raios de Sol e, por um longo instante, antes do retorno do domínio da sombra, brilhou como árvore de Natal fora do tempo. O instante passou, como passa todo instante e o pequeno milagre se desvaneceu. Foi como figura magnífica surgida de repente no giro do caleidoscópio, desfeita por um leve tremor de mãos. Uma bolha de sabão. Aquela ave-nuvem, que acabou de perder uma das asas. O último acorde desta música, no aparelho-de-som.
Conforta-me sempre a presença de qualquer imprevisto instante azul na paisagem cinza que me vive por dentro. Conforta-me o universo do amor que trago em mim o qual, sobrevivendo contra tudo e contra todos, continua o universo do amor que trago, para sempre, em mim.
Republicação na tarde de 13 de setembro de 2011.