DESDE O TEMPO DO OUTRO UNIVERSO

Se naquele tempo de nossa vida, tempo sem relógios, tempo do Outro Universo, tempo do qual eu parti, parti de nós, parti para diverso destino, em razão do meu pavor de afinal não ser o que me cria ser em ti, que eu não ousei crer em tal até e para além do limite da crença necessária; em razão da mudez absoluta de tua boca; em razão da tua, em tantos momentos, negação de nós; em razão da neblina que havia devorado a raiz e o corpo e o em torno de todas as coisas fora de nós dois; se eu, como dizia, não tivesse partido, tu me terias procurado, efetivamente, para cumprirmos nosso destino humano, fosse ele qual fosse? Ou te calarias para sempre como sempre te tens calado e nossa vida acabaria por ter prosseguido tal qual efetivamente prosseguiu, sendo o que nunca deixou de ser, malgrado todas as mútuas tentativas de esquecimento, este agônico para sempre Sonho, este Êxtase vivo de espadas para sempre cravadas dentro do meu e, quiçá, do teu peito, Sonho e Êxtase a inviabilizaram, no comum dos dias, os tempos dos relógios, o tempo deste ‘presente’ universo no qual eu sou e tu és, sem remédio nem saídas, forçados a sobreviver?

Escrito na noite de 31 de julho de 2011; publicação no início da madrugada de 01 de agosto de 2011.