A liberdade do amor
A liberdade do amor
“Dê a quem ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar.”
Quantas pessoas há que são extremamente inseguras nos seus relacionamentos? De maneira que essa afirmação lhes soaria como uma afronta. Infelizmente, vivemos a era do descartável, onde não só objetos, mas pessoas também acabem sendo facilmente substituídas. Relacionamentos aparentemente sólidos não resistem as “novidades” e as paixões avassaladoras e talvez seja esse um dos motivos de tanta insegurança.
Essa frase inicia-se com o sábio conselho: “dê a quem ama asas para voar”. Isso é coisa do amor. Somente quem ama é capaz de deixar o outro livre porque amor e liberdade, se misturam, andam de mãos dadas. Um não sobrevive sem o outro. Um “amor” vigiado, preso, coagido, definha e logo morre. Exatamente porque a liberdade faz parte de sua essência. O amor é livre. Livre de temores, de preconceitos, de bajulações, de fingimentos e de coações.
E ao mesmo tempo o amor também nos faz “cativos” do outro. Quando amamos, tudo na outra pessoa exerce sobre nós fascínio. Somos “presos” pelo sorriso, pelo olhar, por um toque, por um abraço acolhedor, pelo seu falar, o que me faz lembrar, uma declaração de amor de uma mulher pelo seu amado, descrita no livro de cantares: “o seu falar é muitíssimo suave; sim, ele é totalmente desejável...” (Cantares 5:14).
Antoine de Saint-Exupéry, no clássico “o pequeno príncipe”, trata com perfeição desse assunto. Quando indagado sobre o que é cativar, a raposa responde ao principezinho “_ É algo quase sempre esquecido. Significa criar laços. Tu não és ainda para mim um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo”.
É lamentável que hoje tantos relacionamentos tenham perdido isso, e esse é um dos grandes desafios, não permitir que as diferenças e as dificuldades do dia-a-dia roubem-lhes a beleza desse fascínio.
Fujamos de relações superficiais. Que possamos nos envolver de fato, criar laços, cativar e nos deixar ser cativados.
Que possamos passar no teste do tempo e que os anos, as rugas, os cabelos brancos não sejam razões para nos tirar do outro o encanto do princípio.
Que possamos deixar aqueles que amamos suficientemente livres e que além de nossos atos de amor, nossa dignidade seja o motivo suficiente para que ficar seja a sua escolha.
Silvana Sales.
26/06/2011.