LAMENTOS DE UM APAIXONADO
‘Você entrou no trem, e eu na estação vendo um céu fugir...
(...) E o meu coração embora, finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação’
Se tudo que houve até agora não dissesse o contrário...
Eu diria que meu coração é um inconseqüente e desprovido de qualquer bom senso
Diria que ele é um desvairado completo, pois sabia muito bem onde estava entrando
Se seus olhos não me dissessem o contrário...
Eu pensaria que toda a dor que de súbito me pegou seria inútil
Acreditaria que a amargura do ciúme seria a dor mais vã
Se suas mãos não me dissessem o contrário...
Eu diria que todo dissabor deste momento é merecido
E pensaria que o teu toque suave teria se convertido em aspereza
Se suas palavras não me dissessem o contrário...
Eu diria que estas lágrimas que agora de mim vertem são o preço da minha precipitação
Pensaria que enfim a consciência retornou a mim, subitamente, sorrateiramente, fazendo-me ver o que era por demais evidente
Ora, coração?
Não sabias tu que ela ainda não te pertence?
Não mediste o tamanho da insânia que te tomaste por completo?
Não calculou o risco do teu empreendimento?
Agora chores, chores baixinho, manso, murcho, o choro dos resignados
Carrega em ti todo o ônus desta tua paixão desvairada
Faz a única coisa que podes fazer agora, a tua catarse da escrita, chora e lamenta tua desventura
Se tudo não me dissesse o contrário, se eu não soubesse muito bem que no amor é impossível haver bom senso, se eu não tivesse plena convicção de que o amor somente é bom quando dói, acreditaria agora que nada valeu à pena
Mas sei que essa dor irá passar
E se tudo que foi dito até agora realmente for verdadeiro
Esse poema será uma lembrança para rirmos num futuro próximo e feliz