LAMENTOS DE UM APAIXONADO

‘Você entrou no trem, e eu na estação vendo um céu fugir...

(...) E o meu coração embora, finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação’

Se tudo que houve até agora não dissesse o contrário...

Eu diria que meu coração é um inconseqüente e desprovido de qualquer bom senso

Diria que ele é um desvairado completo, pois sabia muito bem onde estava entrando

Se seus olhos não me dissessem o contrário...

Eu pensaria que toda a dor que de súbito me pegou seria inútil

Acreditaria que a amargura do ciúme seria a dor mais vã

Se suas mãos não me dissessem o contrário...

Eu diria que todo dissabor deste momento é merecido

E pensaria que o teu toque suave teria se convertido em aspereza

Se suas palavras não me dissessem o contrário...

Eu diria que estas lágrimas que agora de mim vertem são o preço da minha precipitação

Pensaria que enfim a consciência retornou a mim, subitamente, sorrateiramente, fazendo-me ver o que era por demais evidente

Ora, coração?

Não sabias tu que ela ainda não te pertence?

Não mediste o tamanho da insânia que te tomaste por completo?

Não calculou o risco do teu empreendimento?

Agora chores, chores baixinho, manso, murcho, o choro dos resignados

Carrega em ti todo o ônus desta tua paixão desvairada

Faz a única coisa que podes fazer agora, a tua catarse da escrita, chora e lamenta tua desventura

Se tudo não me dissesse o contrário, se eu não soubesse muito bem que no amor é impossível haver bom senso, se eu não tivesse plena convicção de que o amor somente é bom quando dói, acreditaria agora que nada valeu à pena

Mas sei que essa dor irá passar

E se tudo que foi dito até agora realmente for verdadeiro

Esse poema será uma lembrança para rirmos num futuro próximo e feliz

Frederico Guilherme
Enviado por Frederico Guilherme em 25/05/2011
Reeditado em 25/05/2011
Código do texto: T2993118
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