TUDO OU NADA

Por que só me queres se eu for à tua imagem e semelhança? Por que não me aceitas nas nossas diferenças?

Por que me renegas e ao que de mim não compreendes, ao que em mim, às vezes, te revela a tua sombra?

Sempre aceitei, ainda que depois de muita luta interna, os teus segredos, o teu silêncio eterno, o teu orgulho, a tua incapacidade de perdão. Sei, há muito, muito tempo, que também não és à minha imagem e semelhança e que, se me causam dor as nossas diferenças, elas não têm nem jamais tiveram o poder de me tornar, verdadeiramente, infiel a ti, tanto quanto não tenho medo das sombras de mim que revelas a mim.

Por que fazes questão de permanecer sempre este ser feito só de tudo ou nada, só de branco ou preto? Por que falas da verdade e da mentira como se sempre fossem simples assim as coisas, como se as coisas fossem sempre assim tão claras, assim tão nítidas, como se não fosses aquele que sabe, e como, da outra face das moedas?

Por que não me olhas de frente e à minha face humana, simplesmente humana? Por que não percebes que o meu rei, ainda que sem trono, ainda que sem coroa, ainda que exilado de seus reinos de fora e de dentro, ainda assim ele, meu rei, continuaria a ser, jamais deixaria de ser o meu rei?

Na tarde de 11 de maio de 2011.