Uma mulher como nenhuma outra
Rede Social
Não, não pense que vai encontrá-la no orkut, facebook, quepasa e essas "bestagens" como ela diz. Não, ela não se mistura. Não que seja esnobe, ela é até simples demais só que prefere guardar seus amigos e o nome deles pra ela e eles guardam o nome dela também. Um dia há muito tempo atrás e depois de muita insistência ela tentou mas depois deletou seus mil e tantos amigos. "Amigos... Será que eram todos meus amigos, amigo?" Foi sua justificativa. Ela sabe que deveria "aparecer", que é preciso fazer propaganda na mídia, dar visibilidade para suas letras e ela diz não e ri. Mais fácil encontrá-la na Augusta, na Oscar Freire ou na Praça Roosevelt. Ela conversa com as putas e os travestis, explica as coisas e tenta defendê-los de si mesmos. Mais fácil é encontrá-la na periferia ou na Praça da Sé, andando com sua saia jeans curta e velha, uma camisetinha branca, chinelos e uma mochila imensa pendurada nas costas que ela chama de "saquinho dos milagres". Tem de tudo ali dentro, acho que é encantada, a mochila ou ela, não sei ao certo. Certo é vê-la sentada com os moleques de rua, tirando piolhos ou comendo pão com eles, contando estórias, dando bronca, tirando a polícia do caminho e dando esfrega nos moleques na Cracolândia. E é aí que ela ri. Ri não, ela gargalha: isso é que é rede social meu amigo, o resto é exposição. Dá de ombros e arremata: "deixa pra quem gosta, vai lá se acha que deve, mas não conte comigo...". Um dia ela disse que bastava conhecer 500 pessoas e se conhecia o mundo todo, um tempo depois baixou para 50 e finalmente disse que basta conhecer 5 pessoas e você conhece todos o seres, os encontra em qualquer parte do mundo que você for. Não entendi a princípio, mas depois vi que ela tem razão. É matemática simples. Você conhece fulano que conhece outro fulano e mais outro e por fim você conhece alguém que conhece quem você conhece. Ela é um gênio.
Puta e Santa
Tem algo completamente puro nela. Uma bondade, uma claridade e asas, acho. Às vezes penso que ela é anjo de verdade, depois caio na real. Ela é puta. Não puta que se vende, não prostituta, só puta. Daquelas que enlouquecem os homens. Chega de subito com suas coxas grossas, sua bunda redonda, escreve mais indecências do que todos os escritores pornográficos juntos e faz com que nosso corpo responda a ela como se seu cheiro de cio e almiscarado espalhasse pelos comodos onde se está e aí tenho certeza que ela é demônio, depois caio na real. Penso em seu remédio e seu veneno. Seu antídoto e sua picada; ela é uma cobra rainha, uma serpente sinuosa, insinuante, perigosa. Às vezes eu tenho medo dela, chego a ver sua transformação, mas depois caio na real.
Rainha sem trono e sem rei
Ela é rainha, disso não tenho dúvida, mas ela escolheu não ter castelo e nem rei. Vive só com suas letras e decisões. Acho que comanda soldados com o pensamento. Não sei como faz, mas é obedecida. Ela sonha com um mundo melhor, com justiça, com coisas que ninguém mais sonha ou desistiu. Mas ela não sonha apenas, ela corre atrás e sai dando porrada ou levando curativos. Às vezes consegue, às vezes volta roxa, machucada e sofrida por não conseguir nada e chora sozinha, funga e começa tudo de novo.
Bicho perigoso e indefeso
Ela é um bicho perigoso. Não que traga dentro de si o bicho, ela é o próprio bicho. Tem vezes de leoa, de loba, de cobra, de gata. Por fim, traz em si a fantasia que não é fantasia, porque ela é isso tudo e outros bichos. Bichos verdadeiros, não de pelúcia, não inventados. É potra, égua e não sei direito, mas já encontrei essa mulher como cachorra, não safada, mas encolhida num canto lambendo as próprias feridas e as patas como se quisesse mutilá-las, já vi seus olhos de cão abandonado e chorei porque ela rosna nesses momentos e morde se alguém se aproxima. Há dores que são minhas, diz ela, deixe que eu as viva ou morra com ou por elas.
Não crê em "eu te amo"
Ela já deve ter ouvido a frase sabe-se lá quantas vezes e de quantas pessoas, mas não acredita muito, acho que não acredita nada. Disse que as pessoas amam a beleza, a juventude e a ilusão criada e que esses eu te amo que dizem são meias verdades e ela não gosta das metades de nada. Tudo ou nada. Prefere o nada verdadeiro que o tudo mentiroso. Diz que um dia, se a vida permitir, vai ficar velha e aí saberá qual eu te amo é ou foi verdadeiro, mas como acha que vai morrer antes de ficar velhinha, nunca vai saber. Bem, eu digo eu te amo e não é só por sua beleza e por essas coisas que eu sei dela, mas também porque ela é o melhor ser humano que eu já conheci junto com a fantasia, a ilusão ou qualquer nome dessas coisas que ela consegue nos transmitir justamente por sua humanidade.