AS HISTÓRIAS SOB OS TRAÇOS DO VOSSO ROSTO
Nunca poderia imaginar ao ver pela primeira vez o vosso rosto, que sob os traços dele, do vosso rosto, se ocultassem tantas histórias, tantas histórias dos mais estranhos rostos, tantas histórias de rostos tão indecifráveis como o rosto da nossa história veio a se mostrar.
Esfinge para vós mesmos, esfinge para mim, esfinge para tantas outras, vós, desde sempre, desististes de vos decifrar e vos ocultastes na mais funda das cavernas, para que nem eu nem ninguém pudéssemos ter também qualquer chance de em verdade e de verdade vos saber.
Só gostaria de vos lembrar, nesta hora de agonia, nesta hora da mesma de sempre eterna despedida, que esta ocultação do vosso ser em tão insondável caverna, esta ocultação não é vitória vossa, meu Senhor; pelo contrário, é a mais terrível das derrotas, derrota que não é mérito nosso, das mulheres tantas de vossa vida, Senhor: derrota vossa, por mérito vosso. Derrota vossa, por vosso mérito, e derrota também minha, pois arde no meu peito, pois queima, pois supura, pois não cicatriza nunca; derrota que não cicatriza nunca também no peito de todas as vossas outras amadas, Senhor.
Na tarde de 05 de abril de 2011.