O TEU AMOR ... O MEU AMOR ... O NOSSO AMOR ...

Ah, o teu amor, o teu amor que sempre se recusou a entrar na casa do real, da realidade esta que nos renega e abriga em suas cruezas, em suas misérias, em seu faz-de-conta.

Ah, o teu amor que, mesmo no durante da partilha do reino do sonho, jamais me ousou dizer com a própria voz seu próprio nome e a que veio.

Ah, o teu amor que, uma vez perdidos todos os caminhos, se recusou à transmutação que lhe propus para que nos salvássemos.

Ah, o teu amor que jamais me perdoou por ter ido para outro quando o rumo dos encantamentos se fez apenas beco-sem-saída.

Ah, o teu amor que não foi capaz de perdoar o meu ciúme e o meu desespero mais absolutos quando eu soube de outra mulher condenada, ao longo do dobro do tempo que me coube, condenada ao nosso mesmo comum destino, o da espera, o de uma mesma espera inútil ou melhor, com o rosto do Insuportável, deste Dantesco.

Ah, o teu amor que me condenou ao ódio implacável dessa mulher que só vim a conhecer agora, mulher que me acusa de ser a usurpadora do reino que também julgara apenas seu a vida inteira.

Ah, o teu amor que me retira a palavra e me condena à solidão do esquecimento impossível.

Ah, o teu amor que resta perdido em suas próprias esquinas, mendigo a esmo.

Ah, o meu amor que resta perdido em suas próprias esquinas, mendigo a esmo.

Ah, o nosso amor, pobrezinho amor, a quem a respiração sempre faltou,sempre faltou, sempre faltou ... mas nunca cessa de vez.

Orai por ele, orai por ele, orai... pela sua Paz... pelo mútuo Perdão... orai... para ainda alguma Vida... alguma vida... alguma sobrevida... alguma...

Zuleika dos Reis, na manhã de 16 de dezembro de 2010