UMA VIDA CONSAGRADA

Tenho consagrado minha vida à luta pela perenidade do Sentimento Maior, o único que em mim tem conseguido sobreviver inteiro, íntegro, contra tudo, contra todos, até contra mim mesma, até contra ti mesmo, até contra nós mesmos, meu senhor.

Sentimento Maior sobrevivente a temporais, a maremotos, a terremotos, aos assédios do mundo; sobrevivente à presença das mulheres outras, tantas, na tua vida, senhor meu; sobrevivente aos homens do meu passado, a algum que, por acaso, venha a surgir no futuro e, principalmente, àquele que foi meu homem ao longo de quase duas décadas, de quem foste sempre o rival oculto, o rival terrível, ainda assim o rival que nunca usou, objetivamente, as armas que detinha em seu poder; sobrevivente, por fim, a todas as fidelidades que nos tem cabido, a ti, a mim, algumas a carregar em seu bojo múltiplos e insolúveis sofrimentos.

Sentimento maior que tem sobrevivido a diferenças individuais, de temperamento, de gestos, de opções no mundo; que tem sobrevivido a escuros meus e teus, a desertos meus e teus, à Solidão em mim e em ti, às nossas deserções de nós, em nós; que tem sobrevivido também, e principalmente, ao nosso Pavor diante dele, diante de tal Sentimento Maior; Pavor à Coisa Formidável que ele É, Formidável Coisa que nos pertence, que tem sobrevivido a Tudo, Coisa Formidável que eu, com toda legitimidade, AINDA QUE APENAS EM MEU NOME, tenho por direito denominar Amor. Amor, meu filhote indefeso; Amor, pássaro meu de asas poderosas a singrar os Céus.

Zuleika dos Reis, na manhã de 04 de novembro de 2010, na capital de São Paulo, Brasil.