A sala azul

A sala azul

Ficava muito distante de qualquer lugar que a imaginação poderia chegar. Na cidade do ser, depois que você passava pelo grande portal do infinito, e atravessava várias avenidas congestionadas e barulhentas, quando você já estava sem forças de tanto caminhar encontrava aos poucos um caminhozinho reto sem curvas levemente íngreme depois a pequena ponte sobre o riacho cristalino, e avistava então um lindo gramado verde, repousando sobre o gramado como que deitado, estava lá o edifício mais lindo que já vi meio prata, muito brilhante, eram os reflexos de suas janelas guarnecidas com diamantes, o prédio da verdade absoluta, lá ficava a sala azul.

Lembro-me que uma vez perguntei a Tan se ele conhecia bem a sala azul, e ele respondeu-me que ela não constava em seu currículo, isto é a grande sabedoria não tinha colocado o registro desta sala em sua existência. Não sei por quê. Ao chegar à sala azul eu senti uma paz tão grande, que me lembro só ter sentido uma única vez há mais ou menos há oito anos, quando estive visitando um planetinha.

Em uma viagem de estudos evolutivos. Deve ter sido o efeito da atmosfera que me fez sentir essa liberdade, essa paz superior. Esse silêncio cheio de vida.

Na sala azul viviam, os seres que estavam esperando sua nova trajetória, a indicação de um novo caminho, ou visitantes como eu que não satisfeitos com suas ocupações momentâneas de alguma forma conseguiam chegar até lá.

Agradeci a grande sabedoria, a oportunidade de ter conhecido a sala azul, voltei de lá muito mais feliz, para o resto dos meus dias, pois em pouco tempo lá aprendi que a ilusão passageira, que a fugacidade dos momentos em uma existência, muitas vezes leva-nos a emitir conceitos distorcidos da verdadeira realidade. O que pensamos que era branco era um amarelo desbotado e o que pensamos que era preto, tornou-se negro por causa da sombra das dúvidas que colocamos em nossas mentes. Lá eu encontrei uma resposta para os meus pensamentos mais secretos, minhas angústias cotidianas, minha ansiedade, meu pseudo desespero e meu insatisfeito eu. Sob a luz da verdade que resplandeço nas paredes daquele edifício eu encontrei o verdadeiro amor. Como o sol brilhante e esplendoroso na manhã de verão o calor que aqueceu meu coração, a luz que iluminou meu ser, fez-me perceber a grandiosidade da grande sabedoria, então comigo mesma encontrei um vislumbre de paz no meio dos meus temores. Não tive mais medo.

Na sala azul onde muitos esperam existências eu visitei alguns minutos e reabasteci minhas forças para voltar ao meu dia-a-dia. Agora sei que apesar de toda dor que às vezes sinto, quando tenho saudades dos amigos que já partiram, ou fico deprimida pelas coisas que sonhei e não se realizaram, ou pelos desgostos que passam porque meus sentimentos são colocados à prova e meus nervos vivem saltando por sobre a pele, agora eu sei, que a sala azul estará sempre lá e poderei voltar sempre quando quiser ou mesmo só a lembrança de sua existência torna minha vida mais feliz, mais iluminada. Encontrei a esperança de que todo o minuto que se passa tem um significado maior do que o simples significado que imaginamos, encontrei a esperança de saber que a verdade suprema vive eternamente.

Apesar de saber que meu ex-amor pode não mais voltar para mim, eu sei que se a grande sabedoria providenciar um encontro para nós nem que seja por um momento no intervalo de nossas viagens na cidade do ser nos encontraremos e poderemos conversar trocar idéias.

É apenas uma esperança, mas a sala azul para as pessoas adultas é como se fosse um Papai Noel retirado da gaveta do armário que fechamos no início da infância ou o remédio certo para quem sente que está deixando este mundo.

Sonho e imagino uma visita um passeio pela sala azul e conto meu segredo para você, pois não somos mais crianças, e às vezes nem temos mais tanta esperança, mas quem sabe o meu sonho, a minha felicidade possa também ser compartilhado com você, a qualquer momento na sala azul.

Dizem que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha um olhar azul cheio de luz, quem sabe a sala azul é um raio do olhar de nosso mestre querido!

(extraído das memórias de um momento de divagação no nada!) •.