Olhos do Coração
Só você me faz isso, nena... num momento, estar nem aí pras frases onde insistes em ME mostrar o quanto “amas” aquele pobre – tenho quase certeza: já te falei pra dizer diretamente a ele a asneira que quiser dizer, eu, meu amor, eu não quero saber – no outro momento, me descabelo, me desespero, choro, não me conformo, por que, afinal, você insiste em dizer que aquele imbecil com cara de abestado é que tem que ser “o verdadeiro amor” pra você? Onde mesmo que você viu o “amor sonhado” se refletir? Nos olhos DELE?? Tu só pode tá de brincadeira... sim, é, só você me faz sentir tantas emoções tão contraditórias, minha querida nena... mas eu também já te falei o seguinte: não quero mais isso pra minha vida! Não quero mais continuar me entregando a criaturas que sempre reconhecem o amor do lado errado – curiosamente as mesmas que vêm chorar em nossos ombros a falta de sorte que têm pra encontrar o “amor de sonhos”. Não quero, eu também, insistir em dar amor a quem não está disposta a me dar nem bom-dia! Não quero mais essa obsessão pra mim. Você e só você me faz mal desse jeito, nena! Pior que ainda nem sei que tanto bem te faço que você tinha que ter-me de volta... eu nem pensava mais em você, vai querer desmentir que veio me dizer que eu é que lhe fazia falta?
Nem sei se você tem, mas... ah, nena, se você me visse com os olhos do coração! Por que nem sei se tem? Ora bolas, não quer que eu acredite que o vê com os olhos do coração, que por sua vez é tão cego que não enxerga quem foi que ouviu reverberar o tal amor – que você DIZ ser almejado, pois já não sei mais de nada. Aí é que tá outro problema, meu amor: aos olhos do meu coração não te vejo tão bela, tão verdadeira, ou translúcida, como via antes! Não acredito em tuas palavras, sejam elas ditas diretamente a mim, ou “endereçadas” a outrem. Não consigo mais confiar. Só vejo pretensas declarações de amor, só te vejo dizer que fulano é “tua vida”, como se essa palavra – vida – e “amor” fossem sinônimos. Nós dois e o mundo sabemos que não são... você sabe que mesmo num chiste meu em resposta àquilo que “sério, não é pra você (eu) que está endereçado” estou sendo mais verdadeiro que em todas as vezes em que jogaste frases “amorosas” ao léu, buscando mais me machucar que agradar aos “olhos certos”: o meu amor por você é uma coisa, VOCÊ ainda é meu amor – e lamento muito por isso – e isso é uma coisa. Minha vida, meu coração, é uma outra coisa, que EU escolho se a entrego a você, ou não. Ou pelo menos, TENTO escolher...
Começo a pensar que você não sentia minha falta p$£#@ nenhuma, que na verdade você sentia falta era de meu amor desmedido por você, do ciúme que eu sentia de você, da minha inconformidade quanto a esse teu “romance de conto de fadas” – mentira – ao qual você diz se dedicar. Era nisso que eu te fazia falta, não era? O queridão não tem se dado tanto assim ao “relacionamento”, não é mesmo!? Não espero que me confirme, nem quero saber qual a tua “verdade”. Sim, fui estúpido, coração, ao declarar meus sentimentos, que já vinham me sufocando, por você, e agora estão voltando a sufocar novamente. Você, sempre que pôde, usou-os contra mim. Sabe que, se fosse o contrário, eu não faria o mesmo com você... “mas é perfeitamente justificável, para vingar-se de todos os outros homens!” Não, querida, não é. Sempre fez pouco de meus sentimentos. Você, como toda mulher estúpida, fingiu não ver em mim nada que valesse a pena amar. Brincou comigo e me deu falsas esperanças, eu realmente acreditei em você, que um dia pensou em mim como pensava em você, que algum dia pensou em dar-me uma oportunidade para “refletir em meus olhos o amor que buscavas”... EU ACREDITEI!! E VOCÊ SÓ ESTAVA TESTANDO MEUS SENTIMENTOS, BRINCANDO COMIGO!!
Meu coração... desde aquele dia... te vê como um ser assim, cruel, manipulador, sem coração, sem amor pra dar, sem almejar o amor, apenas fazer com que se apaixonem por você, que percam a cabeça por você, que te dêem tudo o que puderem adquirir... nada de céus vermelhos e você sentada a esperar, nada de toda vida perseguindo amores sonhados, nada de olhares que te acalmem a alma – ou o que quer que se passe por alma – apenas interesses, vantagens, agrados, rastejar a teus pés. Se não for mesmo nada disso... se você realmente tiver um coração... apenas meio míope, como meus olhos, sem perspectiva, quando a distância é um tanto longa, ou só além do teu próprio nariz... eu gostaria, sim, realmente, que lhe colocasse os óculos do amor – de verdade, nem sonhado, nem romântico, verdadeiro mesmo, com os outros e consigo mesmo – e que, então, você enfim me visse com os olhos do coração. Para, ao menos, não me fazer mais sofrer. Infelizmente, eu ainda gostaria disso, e ainda espero por isso... ainda há algum olhar do meu coração para o teu. E lamento muito por isso... não é um pedido de desculpas, é que lamento por mim mesmo... pois agora estou um pouco melhor, mas sei que, mais cedo, ou mais tarde, vou desesperar novamente. E não quero mais isso. Se insiste que não mereço teu “coração”, ao menos reconheça, tampouco mereço mais sofrimento...