A morte do amor mais eterno...

Tão ofegante, trêmula e cansada de amar-te às mortalhas.

Resolvi matar-te, erroneamente, em mim...

Sobraram cinzas. E, de fato fosse-as minhas, mas nem bem são. As cinzas roxas espalharam-se com o vento, num murmúrio e lamento de tempo que, estando ainda em carne, pulsa em mim e queima qual brasa acesa. A dor é intensa, aceita ora sem lágrimas, ora entre soluços solitários em meu closet escuro e repleto de sombras.

Ainda não consegui olhá-las frente a frente. As sombras se instalam e roem cada pedaço de mim que possuía tuas digitais.

Escarneei-te, profanei-te, Tão triste e brevemente.

Dois suspiros e talvez tu voltasses. Que esperança mais branca!

Mas bastardo é o que tu és. É o que somos nós e nossos pecados acesos, incandescentes, remando entre os anjos puros e silenciosos de Deus.

Cada anjo colorido, de asas abertas e ameaçadoras, tecendo redes de pescas cintilantes e púrpuras.

Deito-me, ainda sem que possa distanciar-me d'um beijo teu sequer, e adormeço. Boneca sem coração, cabelos ondulados, a face sempre rúbia, lábios rosados...

Sonho com esta boneca e seus olhos de vitrais amendoados, as pernas em passos lentos d'uma dança quase sexual. O quebra-nozes erguendo-a tantas vezes e seus cabelos rolando no ar da madrugada, como trigal enlaçado pela ventania mais doce e feliz. Sorrí, bailarina, com teus lábios em pecado, nos braços errantes de teu quebra-nozes passageiro. Tudo passará até o despontar do primeiro raio de sol.

Amanheço com o peito em descompassos infernais. E, silenciosamente, em meu púlpito mais íntimo, deixo que brotem as lágrimas mais cheias de ódio e amor. Esqueço-me das cinzas que restaram e volto a sorrir, muda, nua de ti. Tu não voltarás com minhas preces. E haja preces, pois mandingas não me atraem.

Se inda pudesse viver longe de tí, mas vá lá o destino ser mais ingrato e oferecer-me teus olhos dourados dia após dia, cortezmente.

Então, ofegante, trêmula e cansada de amar-te platônica e ferozmente, vou-me silenciando mais e mais. Pois palavras tu tens e sabes bens quais: Amarei-te, eternamente!

Rasgue-as, também, eternamente em teu ser...

Mas só em teu ser, pois o tempo é lápide onde ficam guardados todos os mistérios, os segredos, os desejos e os pecados!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 19/03/2010
Reeditado em 19/03/2010
Código do texto: T2148311
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