“DIFERENÇAS”...


Umas
Pequenas
Outras grandes!

Umas sutis...
Outras gritantes!
Todas importantes!

Sem elas o mundo não seria o mesmo!

Não faça das “diferenças” desculpas!






 NEU*, diferenças que fazem refletir

Viver as DIFERENÇAS
Intolerância: a grande geradora do preconceito
dr. LUIZ CARLOS FORMIGA

“Não Violência é lei do gênero humano, como violência é lei dos irracionais. Nestes o espírito jaz adormecido; eles não conhecem outra lei senão a da força física. A dignidade do homem requer obediência a uma lei mais alta – a força do Espírito” Mahatma Gandhi.

Antes da aposentadoria coordenamos um núcleo espírita na universidade. Para orientação lembramos Paulo: “a caridade não suspeita mal”. Escrevemos a “Ética da tolerância”, publicada no artigo “O retrato de Bezerra” (1). Enfatizamos: "Os meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem".  O progresso do conhecimento é estimulado pelo regime de diálogo franco e aberto. A coexistência pacífica, proporcionada pela fraternidade autêntica, é o ambiente mais favorável à produção intelectual e à tolerância das nossas diferenças, que podem ser exibidas sem conflitos, inibindo o autoritarismo, o fanatismo, o preconceito e a exclusão.

 Sentimos na pele e presenciamos o preconceito religioso. Escrevemos o “Torres gêmeas afro-brasileiras” para lembrar que a nossa Constituição consagra como direito fundamental a liberdade de religião. O Estado deve proporcionar a seus cidadãos um clima de perfeita compreensão religiosa sem intolerância e fanatismo (2).

Em algumas casas, quando o jovem espírita deseja trabalhar ele é podado, justo na hora em que deveriam gastar energias na casa espírita e não naquele baile. Em “Deixe claro para seu filho” (1) perguntamos: Será a evasão o reflexo de um estado social, de uma administração mal conduzida, que além de abortiva é também favorecedora de circunstâncias que podem ser consideradas precipitantes? Como explicar que em alguns centros espíritas encontramos jovens conscientes, atuantes, e em outras não? A falta de fé no jovem; nos orientadores espirituais e também o medo do fracasso fazem com que dirigentes centralizem tudo. Isto é causa de evasão. "O equilíbrio é fundamental, pois um coração temerário incendeia qualquer serviço, arrasando-o. Mas, um coração medroso congela o trabalho". 

Discutindo “O poder das palavras “, no sítio  www.saci.org.br - setembro de 2002 (1),  lembramos que em hanseníase  o preconceito também começa na linguagem, como na cegueira, onde é voltada para a visão. "Faca cega" é a faca que não corta. O problema é que da linguagem o preconceito se transfere para a atitude, aparecendo níveis de afastamento. Surge então o ato de evitar, a discriminação e a segregação, ferindo a fraternidade, a igualdade e a liberdade.
 
A saúde é algo mais do que a ausência de doenças e ela depende de fatores externos ao setor saúde. Da Constituição de 1988 inferimos que existe a determinação social, econômica, política e espiritual do processo saúde-doença.

A emoção marcou o dia 24 de maio de 2007, quando da assinatura da Medida Provisória sobre pensão vitalícia para hansenianos. O cantor Ney Matogrosso lecionou aos políticos que a população precisa ser melhor informada sobre a doença (3): “Eu acho que o grande gerador do preconceito com relação a essa doença é exatamente a ignorância, é não saber que a doença tem cura, tem remédio, as pessoas que tomarem as primeiras doses já não contaminam as outras. Essa falta de informação é que gera esse enorme preconceito”. O estigma internalizado pode ser muito forte e impedir uma integração satisfatória, porque as percepções pessoais ou sociais são incorretas. O estigma é algo externo, não é da pessoa, mas chega antes dela.

É o medo do contágio do estigma que expulsa negros dos espaços privativos dos brancos. Há espaços em que os negros não são desejados, nem como consumidores, nos quais operam os elementos de resistência determinados pelo estigma e isto não depende da conta bancária. A ética é uma ótica. A transformação dessas imagens negativas que aprisionam, que discriminam, requer um novo paradigma que subverta essa ótica perversa. Ela cega a ética e coloca o olhar fora de foco. Somos ainda ignorantes em termos de educação em saúde. Raciocínios em bases falsas são facilmente encontrados. Imagens naturais referentes à causa de hanseníase não foram especificadas em 86% das pessoas entrevistadas, em Minas Gerais, e apenas 1,5% delas ligavam-na a infecção bacteriana (Gandra Junior, tese de doutorado, "A Lepra – uma introdução ao fenômeno social da estigmatização). No trabalho de Gandra, 86,8% das pessoas não sabiam da existência de tratamento. Ainda estamos na fase em que fazemos o que rende mais votos.

Reencarnação não rende votos, apenas aumento de audiência. Na universidade é causa de preconceito (lembram das palavras do Ney Matogrosso?). O futuro chega rápido, para me prevenir deixei “uma petição inicial”, aos meus médicos (parentes ou não) na Revista de Enfermagem da UERJ, 4 (1): 89-102, 1996. Usei como título: O que espero de meus médicos. Idéias para uma declaração de direitos do paciente terminal. Na petição não esqueci os fatos e os fundamentos, as causas de pedir remota e próxima, e por isso dissemos: espero que meus médicos lembrem e aceitem que sou admirador de Allan Kardec e de suas pesquisas. Gostaria de informá-los de que o mestre francês utilizou o método científico das ciências sócio-morais e descobriu que a morte do corpo não mata a vida. Espero que aceitem o fato de que o paciente enquanto está morrendo, está vivendo e precisa de ajuda para ampliar e valorizar o seu passado, uma vez que aparentemente o futuro é muito pequeno.

Meus médicos deverão lembrar que sou reencarnacionista. Deverão admitir e aceitar, sem preconceito,  que eu tenha esta "nova” visão da realidade, mesmo que seja diferente da concepção de mundo do pensamento hegemônico. Aos da equipe de saúde, talvez tenham sido meus alunos, quero lembrar não só a necessidade psicobiológica (eliminação intestinal, vesical, conforto físico), mas as necessidades psicossociais (comunicação, recreação, privacidade) e, principalmente nesta hora, as psicoespirituais.

Praticar a minha religião, receber a terapêutica do passe, é para mim não só uma necessidade
como também um direito.

Foi lembrando dos direitos que escrevi “Roustaing, o termômetro e os direitos fundamentais”. Algum leitor nesta hora poderá torcer o nariz, mas digo que “ainda” não estudei Roustaing. No entanto, quero deixar claro que em matéria religiosa, para que possamos desenvolver quaisquer convicções é necessário que haja a possibilidade de comunicação com outros e conseqüentemente ter acesso a diferentes pontos de vista.

 Num Estado de Direito, a liberdade religiosa só tem sentido em condições de reciprocidade e o direito de igualdade pressupõe o direito à diferença (somos iguais, mas diferentes e, diferentes, mas, sobretudo, iguais). Se alguém desejar pode pegar o Termômetro no sitio Terra Espiritual.


http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.3.htm
(1) HP do NEU-RJ - http://www.geocities.com/neurj/neurj.htm
(2) HP Terra Espiritual - http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/
(3) HP do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase. http://www.morhan.org.br/


dr. LUIZ CARLOS D. FORMIGA é professor universitário da UFRJ e UERJ, aposentado.

* Núcleo Espírita Universitário


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Links Espíritas
http://juli.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=1987995



ARTIGO CORRELATO -  Ética da Tolerãncia
http://www.recantodasletras.com.br/mensagensdeamor/1921186