Amar não é opção...
No começo éramos nós dois, um pelo outro e nenhum sentimento manipulador, tampouco formas estranhas de pensar ou agir. Eu o deixava ser, em paz e Ele permitia que eu existisse, sem reclamar.
O tempo passou, sem que eu pudesse permanecer a mesma; Ele também mudou. Começou a querer demais, cogitar coisas quase impossíveis, me fazer sentir o que antes eu não sentia e foi me estragando, me cansando. Alguns dias, parecia amargo, n’outros, irremediavelmente desejoso, extasiado. Passei a não compreendê-lo, se é que o compreendi na imaturidade do passado.
Minha vida, minha atitudes, minhas palavras... Tudo, agora, submetido às vontades e impropérios Dele. E eu o deixei mandar, falar mais alto e até gritar. Permiti que me desorganizasse, que me expusesse, que me fizesse, às vezes, ridícula, outras vezes, temerosa.
Numa manhã qualquer passei a travar uma luta constante contra Ele. Pois começou a pedir mais que eu poderia dar. Começou a me ferir, me magoar e ser soberbo, arrogante. Não poderia permitir que continuasse. Mas Ele continuou e foi mais forte. Até hoje é mais forte que eu.
Passei a fugir Dele, constantemente. Mas Ele sempre me encontra, me descobre frágil e sem possibilidades de dizer não. Ele não aceita que eu diga não. Ameaça, faz chantagens e me deixa sem escolha alguma, senão seguir seus devaneios.
Mas conversamos, muitas vezes, sem chegar à solução alguma. Já propus que aprendesse com nossos erros, que não me pedisse além da conta e que, jamais, deixasse que a humilhação e a loucura nos acercasse. Implorei e imploro para que, por segundos, fique calado, mas não há esperança.
Sei que um dia morreremos. Deixaremos de existir. Mas, por enquanto, sofremos , choramos e desejamos juntos.
Não posso negar que estou presa a Ele e Ele a mim, de uma maneira “eterna enquanto durar”. Mas passei a conjurar contra seus caprichos e anseios. Passei a acender as luzes quando Ele as apaga, todas. Tentei ser mais dona de mim e permitir que Ele seja menos dono Dele. Mas, à cada dia que passa, Ele se torna mais auto-suficiente e brada à qualquer temeridade, me desconsertando, me magoando. Tenho medo que, iminente, Ele se desprenda para sempre do meu juízo e me deixe só.
Não sei se pode ser pior a vida sem Ele. Não sei o que pode ser Dele sem mim.
Gostaria que vivêssemos em paz e que Ele passasse a me escutar com mais freqüência. Desejaria que Ele fosse menos instável e mais compreensivo. Que aprendesse que não podemos tudo aquilo que queremos.
Mas eu o amo e prefiro relevar. Somos um, então, e nada mais.
Eu vivo por Ele e Ele para mim. Até o último instante, pulsando em meu peito e me permitindo viver. Talvez, por isso, eu o permita tantas coisas, às quais Ele não deveria tanto querer.