PÉROLAS DO AMOR

PÉROLAS DO AMOR

A Maria Clara (6 anos) tinha ganho uma pulseirinha que continha umas miçangas (pedrinhas) coloridas, separadas em feixes, por alguns nós.

Todos os dias, quando ela praticava seus ‘atos de amor’, ela deslocava as miçangas, de um lado ao outro da pulseira, de acordo com a quantidade de ‘atos de amor’ que havia feito.

Era comum, por exemplo, ouvi-la dizer:

- Pai, abrir a porta do elevador para as pessoas é um ato de amor?

- Sim, eu respondia.

Então, mais que depressa ela ‘praticava’ e mudava a pedrinha de lugar na pulseira para saber quantos atos ela já havia praticado.

Quando ela foi internada no hospital Pequeno Príncipe, esta pulseira ficou guardada na bolsa da Inês, sua mãe.

Dia 20 de setembro de 2.002.

Aproximadamente 14:00h.

Fazia três dias que a Maria Clara estava na UTI. Aproximava-se a hora da visita e nós nos preparávamos para irmos ao hospital. Éramos quatro. Saímos todos ao Hall de entrada do apartamento para ‘chamar’ o elevador, exceto a Inês que ainda separava alguma coisa para levar ao hospital, visto que as necessidades das outras crianças internadas eram muitas.

De repente, um grito! Voltei correndo para dentro do apartamento e fui direto ao quarto onde estávamos. A Inês estava estática. Seus olhos, fixos ao chão, mostrava com pavor, a pulseirinha caída aos seus pés. Indaguei-lhe:

- O que aconteceu?

Ela demorou a responder:

- A pulseira! A pulseira ‘saltou’ de dentro da bolsa! Eu abri a bolsa e ela ‘saltou’ pra fora. Não sei como, ela saltou!

Abracei-a e, olhando fixamente para a pulseira a recolhi e guardei-a novamente na bolsa. Um silêncio profundo e inexplicável tomou conta de nós. Tínhamos a impressão de não estarmos sós naquele quarto.

Aproximadamente 14:30h.

Chegamos ao hospital e logo percebemos que alguma coisa havia acontecido. Os familiares das pessoas internadas na UTI ainda aguardavam do lado de fora do balcão de atendimento. Uma enorme ansiedade tomou-nos.

- Estão fazendo ‘manutenção na UTI’, informou alguém.

O silêncio foi geral. A espera de poucos minutos parecia uma eternidade. De repente uma voz forte quebrou o silêncio:

- Os familiares da Maria Clara podem se dirigir à UTI, por favor.

Subimos as escadas em silêncio. Os corredores pareciam um labirinto. Um anjo nos aguardava na entrada da UTI, o Dr. André. Nenhuma palavra! Somente um forte abraço amigo que dizia: ‘está consumado!

A Maria Clara havia partido. Choramos, abraçados.

Aproximadamente 17:00h.

(...) um carro percorria as ruas de Curitiba, rumo a uma funerária. O silêncio era quebrado paulatinamente pelo amigo Armando que me acompanhava. Entre uma frase e outra, o conforto da presença de uma fé mútua que nos fortalecia e nos permitia viver juntos aquele momento. Era como se os braços do Pai tomasse no colo seus filhos, acolhendo para si toda a dor e sofrimento.

Meu celular tocou. Era um interurbano:

- Seu neto acabou de nascer! O Nathan nasceu forte e bonito. Tudo ocorreu bem, embora ele tenha adiantado duas semanas. A Paula (a mãe) está bem. Tudo está muito bem.

Era Deus, restituindo a vida!