QUAL É A COR DO AMOR?


O poeta Cazuza em seu poema-canção SÓ SE FOR A DOIS já se questionava com pertinência e sensibilidade tal questão. Controvertido, acusado por muitos de libidinoso e pervertido, parecia compreender a natureza humana de maneira isenta, conhecedor da origem de todos os males que afligem esse mundo conturbado e doente.

A afetividade, em suas mais variadas manifestações, é princípio e o fim da busca incessante ao qual o homem se lança diuturnamente; sendo não raramente, substituída por conceitos como sucesso social e financeiro, reconhecimento público e as suas mais diversas variações, dissociando-a assim, do verdadeiro sentido: A SATISFAÇÃO EMOCIONAL LIGADA AO ATO DE DOAR E RECEBER O AMOR.

Provavelmente a raiz deste fato está vinculada a uma série de normas e regras socialmente convencionadas que limitam e delimitam espaços, transformando a humanidade num conjunto de seres competitivos e atados a modelos de comportamento que, quando não vivenciados como o esperado, geram injustificáveis sentimentos de culpa, depreciação, ansiedade, melancolia e morte. Sim, morte! Porque não exercitar o afeto provoca aridez na mente e no espírito! Leva-nos à dolorosa morte diária, ardente e pulsante.

Supostamente, o “socialmente correto” seria não expandir ilimitadamente os laços de ternura, entrega e aceitação deixando-os restritos às relações familiares – sejam elas viabilizadas através do parentesco ou casamento.

Esse exclusivismo, entretanto, não consegue se sustentar durante muito tempo, ainda que as aparências possam demonstrar o contrário. Exige-se fidelidade absoluta e constantes “provas” de envolvimento; sufocando, massacrando, anulando! São pais que não permitem aos seus filhos vivenciar suas próprias experiências lançando sobre eles as expectativas que lhes foram frustradas. São filhos que “parasitam” sob a proteção dos pais recusando-se ao amadurecimento. São esposas e maridos que movidos pelo ciúme e insegurança enxergam ameaças onde não existe, tornando a vida de seus parceiros agonizante e infernal. São amigos a egoisticamente cobrar atenção. São empresas exigindo de seus funcionários o sacrifício da afetividade a fim de comprovarem sua lealdade aos propósitos estipulados.

Esquece-se, contudo, que o homem é naturalmente fiel ao sentir e não às pessoas ou empreendimentos. E ao sentimento também é inerente o multiplicar-se; ou seja, quanto mais expresso amor e seus atributos maior é minha necessidade de fazê-lo.

O amor também não se sustenta através de trocas e barganhas.

Aceitar como realidade tais afirmações requer de nós o constante exercício de paciência, a incessante procura do auto-conhecimento e, sobretudo, um reconstruir-se livre de noções pré-concebidas. Assim, pelo esforço edificamos relações maduras em todos os níveis e, mais: saciamos nossa sede de afetividade, tão relegada ao segundo plano e causadora de cruciais padecimentos.

“Amar de verdade só se for a dois”?

Não, porque o amor não vinga quando plantado por entre cercas.