DA DEGRADAÇÃO À ESPERANÇA ( EXEMPLO DE PESSOAS QUE FAZEM A DIFERENÇA)

Uma ação de renovação social em um bairro carente: surge um amor solidário e respeitoso, sensível às necessidades de quem mais precisa

"Antes de iniciar esta aventura eu ia raramente ao centro histórico, e com muito temor. Agora quando estou lá me sinto em casa, como se cada pessoa que encontro fosse um irmão, e se cada uma daquelas pedras me pertencesse”.

Depois de alguns fatos violentos que chocaram a cidade, eu e alguns jovens sentimos o desejo de fazer algo concreto pela nossa gente, arregaçando as mangas e colocando em prática o ideal do mundo unido, pelo qual nos sentíamos chamados a gastar a nossa vida.

Uma pessoa que tinha este mesmo desejo – e que há mais de vinte anos trabalha no centro histórico da cidade – nos convidou para ajudar o pároco de uma igreja situada numa rua muito famosa do bairro, e que representa o máximo da “degradação”. Colhemos a chance imediatamente. Tratava-se de ir para lá no sábado à tarde e animar os jogos com um grupo turbulento e numeroso de crianças e adolescentes, cerca de quarenta entre italianos e equatorianos.

Seríamos capazes de assumir um compromisso duradouro, deixando as nossas habituais comodidades? A aventura começou, e para nós, cheios de ingenuidades e esperanças, o primeiro impacto foi muito duro: insultos, desaforos, ataques...

Mesmo se as mesmas cenas se repetiam nós não desistimos. Por alguns meses procurei me entrosar com as meninas, que mantinham as devidas distâncias, até que um sábado do mês de maio elas me convidaram para jogar juntas. Para mim foi a resposta, finalmente tinham me aceitado.

No verão fomos para o interior, com quase vinte deles, num local onde a paróquia costumava ir. Quando chegamos os vizinhos ficaram aterrorizados, lembrando dos anos anteriores, mas no final nos agradeceram. Quando estávamos indo pedi a Deus que me usasse como um instrumento, a fim de que aquelas crianças conhecessem um modo de viver diferente do que estavam habituadas, apoiado na lei do mais forte. Gostaria que elas vissem que é possível colocar o Evangelho como base da vida.

Desde então somos muito unidos, especialmente com os mais difíceis, os que são mais abandonados pela própria família. Com o passar dos anos continuamos a ir ao bairro, aumentando o tempo que ficamos com as crianças. Agora vamos três vezes por semana, para ajudá-los nos trabalhos escolares.

Há algum tempo inscrevemos uma garota num curso de dança, ela tinha um verdadeiro talento e não podíamos nos contentar dizendo: “que pena que a sua família não se interessa!”. Procuramos bolsas de estudo e ela foi aceita, com prazer, pela melhor escola de dança clássica da cidade, com um desconto considerável na mensalidade. A possibilidade de freqüentar outros ambientes, formando-se com uma disciplina muito rigorosa, ajudou muito essa menina que agora tem 15 anos. No mês de junho ela fez um recital em um teatro famoso.

Eu estava nos bastidores, para ajudar, e me comovia vendo passar diante dos meus olhos o ambiente degradante onde ela está todos os dias e a harmonia que exprime com a dança. Tinha a impressão de um milagre, até porque hoje somos como duas irmãs.

No ano passado fizemos outras férias no verão. Desta vez eram menos numerosos e pudemos tratar mais em profundidades assuntos que lhes interessam, porque sentimos que somos um instrumento para que encontrem uma vida diferente daquela que conhecem.

A experiência no centro histórico mudou a minha vida e a de outros jovens. Agora, quando passo por aquelas ruas sinto-me em casa, como se cada pessoa que encontro fosse um irmão e se cada uma daquelas pedras me pertencesse. Muitos me cumprimentam; é verdade que é preciso ser prudentes, mas eu me sinto à vontade. Durante estes anos fiz amizade com crianças que agora já são adolescentes e que me vêem como um ponto de referência, e também com os pais deles, que com freqüência se sentem excluídos da sociedade.

(C. O. -Itália)

OBS: TEXTO EXTRAIDO DO SITE DO FOCOLARES