A filosofia do amor
"No princípio fui um pensamento concebido em amor.Fui uma enorme gota de emoção depositada com os olhos invisíveis de um Deus no coração de um humano. Fui a intenção resumida do fogo e do céu, do ar e da água. Fui desenhado como uma fonte a correr para o mar; como uma brisa a subir para o céu. Sou a origem do universo, um mito de criação que não tem princípio nem fim A minha história é o princípio de quando não existia nenhum pássaro, nem árvore, nem montanha. Apenas existia o céu e o céu era um criador modelar. Assim estive no olhar que criou a terra e a mulher. Sou o sopro de todos os sopros como todos os sopros da alma que estiveram na origem e no fim da humanidade, como um canto soprado na Via Láctea das estrelas dos infinitos com mentes de afagos. Estivemos na origem da vida. Apenas havia vida e não se ouviam os cantos de morte das serpentes que serpenteavam as nuvens das estrelas.
Quando o céu se separou da terra, ficamos vazios e negros de saudade. E ao lado da vida juntou-se a cólera e a malícia vestidas de morte. Assim, ao lado da harmonia, juntou-se o caos onde os anjos da revolta da ambição se juntaram em cobiça para agarrar a pele da génese do amor.
O amor é o hino soprado do acto criador da terra onde o céu se cola sem nada implorar. Como é intocável e indestrutível, apareceram os mundos paralelos para o dominar. Só que o amor não teme enfrentar o homem das seis cabeças. Tomado pela vontade do acto criador, por se dar em inocência e desprendimento, o amor procriou a existência. Foi assim que antes de o ser já o era. É por isso que a existência é o filho muito amado do amor concebida na liberdade do fogo, do vento, do sol, da lua, da aurora e de todas as luzes que brilhavam antes de tudo.
O amor tem a idade do espírito do céu e da terra e tem a juventude da criança dada à luz na rebentação das águas lácteas da fertilidade. É a maternidade esculpida em canto de doação estremunhada e sonhada antes de todos os sonhos que se dão apenas por se dar de solidariedade. Voa como um pássaro na aurora sagrada onde os pensamentos se cruzam com o arco- íris dos sonhos sagrados, livres de voar. O amor não tem conversão porque nasceu puro e imaculado como um cordeiro manso escondido na lã da sua alma. Faz parte da eternidade porque a criação não tem princípio nem fim. E não se desfaz em sacrifícios. O amor dá-se e renova-se de infinda reprodução e quando se entrega transforma-se num acto permanente de criação, a existência de todas as existências à conquista da perfeição.
Um dia, os anjos revoltados, aqueles que rejeitaram o amor e o quiseram dominar para o tornar escravo, subiram ao céu a carpir maldições com maçãs azedas coladas nos olhos. A partir de então, o amor ficou entregue a si próprio, sujeito a todos os desamores. Mas o amor não precisa dos deuses nem nada receia. Porque o amor, acto de criação da vida no princípio de tudo, basta-se a si próprio.
O amor chama com as vozes da sua canção mágica, mesmo que as suas notas sejam as mais simples e primárias; sobretudo quando as notas são simples, pois o amor tem a simplicidade do sol e a nudez pura e branca do brilho solto da lua com beiços de aurora. Invoca-se no espírito e vem depressa, mesmo quando longe não vem vestido de mulher. É que o espírito do amor é uma chama que se levanta onde existe um sonho a crescer com os olhos de criança. Invoca-se, levanta-se e vem no canto das noites claras a arder de desejos para acender fogueiras de madrugadas. E nesta invocação ilumina-se em sol de céu azul em nuvens brancas de dourar abrigos. E não tem cantos de guerra porque o amor tem poemas de pássaros de espírito grande que faz correr os rios do coração até aos mares onde desaguam todos os sonhos. No seu canto enrola-se a fitas vermelhas de milhos, coloridos de incenso e vestidos de espigas, onde os mistérios ardem, se desvendam e não se queimam.
Antes de tudo, ainda o mundo não existia, já o amor fumegava no espírito envolto em lírios e esmeraldas. Deles tem o sopro do seu nascimento onde a perfeição chegou ao coração com a grandeza da luz do dia e uma canção a soletrar de vida. E assim num adeus se fez a ao caminho com a instrução” tu és amor e só em amor podes crescer”, a única instrução digna do deus dos deuses. Fez-se então à vida dos que não vão em vão com os cântaros nos olhos de águas floridas em asas de sonho. E ouve a canção do vento em planícies onde o vento se detém a descansar com o sopro para o céu a atirar algodões de esperança às nuvens suspensas de si. Longe é a vida do amor porque tem os olhos de sol rasgado em canções de rios cristalinos.
O amor caminha em qualquer hora e lugar. Porque o amor não tem noite nem dia; não tem luz nem dia nem espaço. O amor é a luz e antes dele nada existia e sem ele nada existe. E só por causa dele tudo existe. Caminha a qualquer hora sem cessar. Em noites de escuridão iluminada por solidão alumia a lua grande e grossa que está lá longe, suspensa no céu entre as lágrimas das estrelas e as saudades dos sonhos perdidos. Esta lua não existe; ela é apenas o mito do reflexo do amor de tempos a tempos reflectido na terra quando os sonhos estremecem de comoção. E por debaixo dela os rios passam com batidas de chuva solta de saudade. Como a flor do feijoeiro, branca e densa, o amor é uma estrela a enrolar-se para o céu a emprestar-lhe o brilho. E assim dança a canção das searas das onduladas em mares feitos de ondas de vento a embalar sonhos de eterna juventude.
Por onde passa, o amor canta ao fogo, à terra, à água e aos gansos selvagens a canção branca e serena do sono da floração da Primavera. Quando as luzes das casas cintilam com emoções de ternura, o amor ergue-se do chão, brilha nas alturas e flutua entre as janelas da noite em permanente reflexão. E assim tece o luar de chuvas cheias de emoções para regar corações a murchar de saudade. Nas manhãs das auroras acordadas, levanta-se para saudar o dia e despedir-se da noite. Não há escuridão que o agarre nem céu azul que o envolva a mirar estrelas. É que o amor não pára e vai alto, muito alto, até encontrar as estradas floridas que dão acesso ao último verso, o verso onde se resumem todos os versos.
Como o espírito que em qualquer hora entra pelo coração dentro, o amor carrega a voz que embeleza a terra em chão de flor onde se dança a canção das estrelas da eternidade. Canção onde Deus me deu a ideia; onde o meu pai me deu a concepção; onde a minha mãe me fez crescer o ser no ser; onde as estradas da vida caminham em direcção à eternidade a rasgar nuvens de tempestades de sonhos. Neste caminho encontra princesas e irmãos com faíscas de raios de brilhos e olhos com geadas e neves de comoção de inocência. E dá-se como irmão concebido pelo mesmo Deus, um sopro suspirado de êxtase. Imita os pássaros na liberdade e elogia o coração pintado no brilho da sua cor; uma flor perfumada, polida com ternura e asa de sonhos livres. Assim o amor nasce do sonho a caminho do sonho da eternidade onde só desabrocham flores diante do sol suspenso na tocha dos deuses sem cavalos de ira.
Os conquistadores do ouro querem conquistar o amor como ferreiros retumbantes a ranger a bigorna de aço com a lima das suas cobiças. Mas o amor não se compra, não se vende e muito menos se conquista. O amor dá-se por se dar, apenas por se dar, e só por se dar se basta. O amor recebe e dá-se como as flores se dão ao vento em dias de excitação serena; com os sopros nos olhos e a brancura no coração. O amor comprado é apenas uma ilusão, a sombra escorregadia da negação. É um mero instante perdido e gasto no prazer sem a vibração da alma. E por isso se esgota. E por isso se perde como um tigre que ataca por atacar. E por isso se morre num tempo sem tempo.
Como jovem cavaleiro branco, voa no canto dos sonhos alternados à procura da dama de todas as damas. Porque não é defeito amar demais e o amor não se pode deixar para depois porque está antes de tudo. Tem o jeito de cavalgar a mansidão dos cavalos alados para encontrar os mares das nuvens adornadas de sonhos. Assim, como cavaleiro branco, o amor é um eterno amante deitado à cabeceira dos sonhos; porque o amor não tem idade; porque o amor não tem princípio nem fim. Assim andará à volta do coração a arrancar flores para fazer colares nos olhos. E apresentar-se-á ao sol como uma criança que acorda com o orvalho das ilusões da manhã da juventude. Sem fórmulas, respira a emoção de sentir o sopro sagrado da vida para infundir a força na vontade da alma. Sem a vertigem das taças douradas dos instantes bebidos, com a sua força de existir domina os redemoinhos que tentam sugar a vida para os buracos negros das coisas perenes e finitas.
O amor é o advento da nova terra. A promessa das promessas que se cumpre quando se aproxima do espirito da perfeição, do sopro desprendido e imaculado de cobrir a terra com um suspiro de ternura. É a redenção anunciada da humanidade concebida no amor e por amor, no gesto precoce e sonhado antes de tudo existir. É o filho do Deus prometido, um filho que é cada um de nós derramado em vida.
O amor está antes da natureza das coisas, como uma onda enrolada em bola de espuma revelada no fio dos olhos iluminados por dentro. É um conhecimento antes de qualquer conhecimento conhecedor que está anda por conhecer. Na sua descoberta, ganha-se a clarividência que brota do saber. Mas não há conhecimento que valha uma perda de inocência. E a inocência é o caudal cristalino do amor que desnuda em transparência por apenas querer ser. No amor não há frutos proibidos porque o amor na sua natureza é uma fonte de conhecimento inocente que se cuida para voltar a rebentar numa explosão de vida. Não se colhe porque o amor é um fruto maduro de puro sabor que se dá e sabe receber. Só no amor se encontram as palavras belas e jamais inventadas, as palavras certas para registar no papel da impressão dos versos. Palavras que não sendo ditas são vividas até ao limite da entrega e da doação. São as palavras onde cada letra é uma pétala de comoção desfolhada e vivida, como se fosse um êxtase a brilhar em noite rainha de todas as rainhas.
Não há poetas do amor. É que o amor é de todos os poetas. E poetas são todos os que têm o brilho do amor na alma. Há muitos versos que falam de amor. Mas nenhum é o amor. E cada um é um raio de amor. É verdade que o amor viaja por muitos versos. Mas o verso do amor é o último verso; aquele que resume a vida repousada no amor dos corações abertos. O amor é igual em todo o lado: em Atenas ou em Roma; na Índia ou na China; no Oriente ou no Ocidente. O amor apenas tem uma face porque o amor é como o sol tão global e livre, tão igual de ser, tão acima de tudo que nem aos deuses pertence. É que o amor é um deus feito em nós com a respiração no coração e os olhos a brilhar na alma.
Nos versos do futuro só enxergo poemas de amor. Não admira. É que o amor é a essência. E a essência não se cansa de ser. Na busca do amor conquista-se o futuro a caminho da eternidade.
Eu sou o sopro do vento que fala da filosofia do amor. Que não se cansa de falar de amor. Mas quando falo do amor não sei se digo ou se sinto. Porque eu falo do amor sem saber falar. Conheço-o sem o conhecer. Nem encontro as palavras belas e lapidadas para falar do amor. Sei apenas que falo do que não sei. Mas falo do que sinto. E sentir é saber.
O amor é uma eterna busca, um sonho por sonhar que se procura e se cumpre sonhando de olhos abertos. Filosofia do amor? O amor não tem filosofia. O amor nasceu antes de tudo, por causa de tudo e não tem princípio nem fim. O amor não tem palavras que caibam nas palavras que podem ser ditas. Tem apenas o sopro da vida
Falar de amor? Não sei, ninguém sabe. O amor não fala, apenas vive."
José Ribeiro
Nota: Quero agradecer ao poeta José Ribeiro Zito(LISBOA) ,pela iniciativa de me enviar esse maravilhoso texto e desejar de todo o meu coração que ,a tua inspiração permaneça ao teu lado, sempre!
Fico lisonjeada com tal amizade.
com admiração
Cármen Neves
Até hoje, 26.07.12 foi lido 24.142 vezes.
Parabéns, José Ribeiro Zito e grata!( 20.07.09).
* Imagem foto arquivo pessoal.
"No princípio fui um pensamento concebido em amor.Fui uma enorme gota de emoção depositada com os olhos invisíveis de um Deus no coração de um humano. Fui a intenção resumida do fogo e do céu, do ar e da água. Fui desenhado como uma fonte a correr para o mar; como uma brisa a subir para o céu. Sou a origem do universo, um mito de criação que não tem princípio nem fim A minha história é o princípio de quando não existia nenhum pássaro, nem árvore, nem montanha. Apenas existia o céu e o céu era um criador modelar. Assim estive no olhar que criou a terra e a mulher. Sou o sopro de todos os sopros como todos os sopros da alma que estiveram na origem e no fim da humanidade, como um canto soprado na Via Láctea das estrelas dos infinitos com mentes de afagos. Estivemos na origem da vida. Apenas havia vida e não se ouviam os cantos de morte das serpentes que serpenteavam as nuvens das estrelas.
Quando o céu se separou da terra, ficamos vazios e negros de saudade. E ao lado da vida juntou-se a cólera e a malícia vestidas de morte. Assim, ao lado da harmonia, juntou-se o caos onde os anjos da revolta da ambição se juntaram em cobiça para agarrar a pele da génese do amor.
O amor é o hino soprado do acto criador da terra onde o céu se cola sem nada implorar. Como é intocável e indestrutível, apareceram os mundos paralelos para o dominar. Só que o amor não teme enfrentar o homem das seis cabeças. Tomado pela vontade do acto criador, por se dar em inocência e desprendimento, o amor procriou a existência. Foi assim que antes de o ser já o era. É por isso que a existência é o filho muito amado do amor concebida na liberdade do fogo, do vento, do sol, da lua, da aurora e de todas as luzes que brilhavam antes de tudo.
O amor tem a idade do espírito do céu e da terra e tem a juventude da criança dada à luz na rebentação das águas lácteas da fertilidade. É a maternidade esculpida em canto de doação estremunhada e sonhada antes de todos os sonhos que se dão apenas por se dar de solidariedade. Voa como um pássaro na aurora sagrada onde os pensamentos se cruzam com o arco- íris dos sonhos sagrados, livres de voar. O amor não tem conversão porque nasceu puro e imaculado como um cordeiro manso escondido na lã da sua alma. Faz parte da eternidade porque a criação não tem princípio nem fim. E não se desfaz em sacrifícios. O amor dá-se e renova-se de infinda reprodução e quando se entrega transforma-se num acto permanente de criação, a existência de todas as existências à conquista da perfeição.
Um dia, os anjos revoltados, aqueles que rejeitaram o amor e o quiseram dominar para o tornar escravo, subiram ao céu a carpir maldições com maçãs azedas coladas nos olhos. A partir de então, o amor ficou entregue a si próprio, sujeito a todos os desamores. Mas o amor não precisa dos deuses nem nada receia. Porque o amor, acto de criação da vida no princípio de tudo, basta-se a si próprio.
O amor chama com as vozes da sua canção mágica, mesmo que as suas notas sejam as mais simples e primárias; sobretudo quando as notas são simples, pois o amor tem a simplicidade do sol e a nudez pura e branca do brilho solto da lua com beiços de aurora. Invoca-se no espírito e vem depressa, mesmo quando longe não vem vestido de mulher. É que o espírito do amor é uma chama que se levanta onde existe um sonho a crescer com os olhos de criança. Invoca-se, levanta-se e vem no canto das noites claras a arder de desejos para acender fogueiras de madrugadas. E nesta invocação ilumina-se em sol de céu azul em nuvens brancas de dourar abrigos. E não tem cantos de guerra porque o amor tem poemas de pássaros de espírito grande que faz correr os rios do coração até aos mares onde desaguam todos os sonhos. No seu canto enrola-se a fitas vermelhas de milhos, coloridos de incenso e vestidos de espigas, onde os mistérios ardem, se desvendam e não se queimam.
Antes de tudo, ainda o mundo não existia, já o amor fumegava no espírito envolto em lírios e esmeraldas. Deles tem o sopro do seu nascimento onde a perfeição chegou ao coração com a grandeza da luz do dia e uma canção a soletrar de vida. E assim num adeus se fez a ao caminho com a instrução” tu és amor e só em amor podes crescer”, a única instrução digna do deus dos deuses. Fez-se então à vida dos que não vão em vão com os cântaros nos olhos de águas floridas em asas de sonho. E ouve a canção do vento em planícies onde o vento se detém a descansar com o sopro para o céu a atirar algodões de esperança às nuvens suspensas de si. Longe é a vida do amor porque tem os olhos de sol rasgado em canções de rios cristalinos.
O amor caminha em qualquer hora e lugar. Porque o amor não tem noite nem dia; não tem luz nem dia nem espaço. O amor é a luz e antes dele nada existia e sem ele nada existe. E só por causa dele tudo existe. Caminha a qualquer hora sem cessar. Em noites de escuridão iluminada por solidão alumia a lua grande e grossa que está lá longe, suspensa no céu entre as lágrimas das estrelas e as saudades dos sonhos perdidos. Esta lua não existe; ela é apenas o mito do reflexo do amor de tempos a tempos reflectido na terra quando os sonhos estremecem de comoção. E por debaixo dela os rios passam com batidas de chuva solta de saudade. Como a flor do feijoeiro, branca e densa, o amor é uma estrela a enrolar-se para o céu a emprestar-lhe o brilho. E assim dança a canção das searas das onduladas em mares feitos de ondas de vento a embalar sonhos de eterna juventude.
Por onde passa, o amor canta ao fogo, à terra, à água e aos gansos selvagens a canção branca e serena do sono da floração da Primavera. Quando as luzes das casas cintilam com emoções de ternura, o amor ergue-se do chão, brilha nas alturas e flutua entre as janelas da noite em permanente reflexão. E assim tece o luar de chuvas cheias de emoções para regar corações a murchar de saudade. Nas manhãs das auroras acordadas, levanta-se para saudar o dia e despedir-se da noite. Não há escuridão que o agarre nem céu azul que o envolva a mirar estrelas. É que o amor não pára e vai alto, muito alto, até encontrar as estradas floridas que dão acesso ao último verso, o verso onde se resumem todos os versos.
Como o espírito que em qualquer hora entra pelo coração dentro, o amor carrega a voz que embeleza a terra em chão de flor onde se dança a canção das estrelas da eternidade. Canção onde Deus me deu a ideia; onde o meu pai me deu a concepção; onde a minha mãe me fez crescer o ser no ser; onde as estradas da vida caminham em direcção à eternidade a rasgar nuvens de tempestades de sonhos. Neste caminho encontra princesas e irmãos com faíscas de raios de brilhos e olhos com geadas e neves de comoção de inocência. E dá-se como irmão concebido pelo mesmo Deus, um sopro suspirado de êxtase. Imita os pássaros na liberdade e elogia o coração pintado no brilho da sua cor; uma flor perfumada, polida com ternura e asa de sonhos livres. Assim o amor nasce do sonho a caminho do sonho da eternidade onde só desabrocham flores diante do sol suspenso na tocha dos deuses sem cavalos de ira.
Os conquistadores do ouro querem conquistar o amor como ferreiros retumbantes a ranger a bigorna de aço com a lima das suas cobiças. Mas o amor não se compra, não se vende e muito menos se conquista. O amor dá-se por se dar, apenas por se dar, e só por se dar se basta. O amor recebe e dá-se como as flores se dão ao vento em dias de excitação serena; com os sopros nos olhos e a brancura no coração. O amor comprado é apenas uma ilusão, a sombra escorregadia da negação. É um mero instante perdido e gasto no prazer sem a vibração da alma. E por isso se esgota. E por isso se perde como um tigre que ataca por atacar. E por isso se morre num tempo sem tempo.
Como jovem cavaleiro branco, voa no canto dos sonhos alternados à procura da dama de todas as damas. Porque não é defeito amar demais e o amor não se pode deixar para depois porque está antes de tudo. Tem o jeito de cavalgar a mansidão dos cavalos alados para encontrar os mares das nuvens adornadas de sonhos. Assim, como cavaleiro branco, o amor é um eterno amante deitado à cabeceira dos sonhos; porque o amor não tem idade; porque o amor não tem princípio nem fim. Assim andará à volta do coração a arrancar flores para fazer colares nos olhos. E apresentar-se-á ao sol como uma criança que acorda com o orvalho das ilusões da manhã da juventude. Sem fórmulas, respira a emoção de sentir o sopro sagrado da vida para infundir a força na vontade da alma. Sem a vertigem das taças douradas dos instantes bebidos, com a sua força de existir domina os redemoinhos que tentam sugar a vida para os buracos negros das coisas perenes e finitas.
O amor é o advento da nova terra. A promessa das promessas que se cumpre quando se aproxima do espirito da perfeição, do sopro desprendido e imaculado de cobrir a terra com um suspiro de ternura. É a redenção anunciada da humanidade concebida no amor e por amor, no gesto precoce e sonhado antes de tudo existir. É o filho do Deus prometido, um filho que é cada um de nós derramado em vida.
O amor está antes da natureza das coisas, como uma onda enrolada em bola de espuma revelada no fio dos olhos iluminados por dentro. É um conhecimento antes de qualquer conhecimento conhecedor que está anda por conhecer. Na sua descoberta, ganha-se a clarividência que brota do saber. Mas não há conhecimento que valha uma perda de inocência. E a inocência é o caudal cristalino do amor que desnuda em transparência por apenas querer ser. No amor não há frutos proibidos porque o amor na sua natureza é uma fonte de conhecimento inocente que se cuida para voltar a rebentar numa explosão de vida. Não se colhe porque o amor é um fruto maduro de puro sabor que se dá e sabe receber. Só no amor se encontram as palavras belas e jamais inventadas, as palavras certas para registar no papel da impressão dos versos. Palavras que não sendo ditas são vividas até ao limite da entrega e da doação. São as palavras onde cada letra é uma pétala de comoção desfolhada e vivida, como se fosse um êxtase a brilhar em noite rainha de todas as rainhas.
Não há poetas do amor. É que o amor é de todos os poetas. E poetas são todos os que têm o brilho do amor na alma. Há muitos versos que falam de amor. Mas nenhum é o amor. E cada um é um raio de amor. É verdade que o amor viaja por muitos versos. Mas o verso do amor é o último verso; aquele que resume a vida repousada no amor dos corações abertos. O amor é igual em todo o lado: em Atenas ou em Roma; na Índia ou na China; no Oriente ou no Ocidente. O amor apenas tem uma face porque o amor é como o sol tão global e livre, tão igual de ser, tão acima de tudo que nem aos deuses pertence. É que o amor é um deus feito em nós com a respiração no coração e os olhos a brilhar na alma.
Nos versos do futuro só enxergo poemas de amor. Não admira. É que o amor é a essência. E a essência não se cansa de ser. Na busca do amor conquista-se o futuro a caminho da eternidade.
Eu sou o sopro do vento que fala da filosofia do amor. Que não se cansa de falar de amor. Mas quando falo do amor não sei se digo ou se sinto. Porque eu falo do amor sem saber falar. Conheço-o sem o conhecer. Nem encontro as palavras belas e lapidadas para falar do amor. Sei apenas que falo do que não sei. Mas falo do que sinto. E sentir é saber.
O amor é uma eterna busca, um sonho por sonhar que se procura e se cumpre sonhando de olhos abertos. Filosofia do amor? O amor não tem filosofia. O amor nasceu antes de tudo, por causa de tudo e não tem princípio nem fim. O amor não tem palavras que caibam nas palavras que podem ser ditas. Tem apenas o sopro da vida
Falar de amor? Não sei, ninguém sabe. O amor não fala, apenas vive."
José Ribeiro
Nota: Quero agradecer ao poeta José Ribeiro Zito(LISBOA) ,pela iniciativa de me enviar esse maravilhoso texto e desejar de todo o meu coração que ,a tua inspiração permaneça ao teu lado, sempre!
Fico lisonjeada com tal amizade.
com admiração
Cármen Neves
Até hoje, 26.07.12 foi lido 24.142 vezes.
Parabéns, José Ribeiro Zito e grata!( 20.07.09).
* Imagem foto arquivo pessoal.