Sobre Amizade
A amizade é uma joia para qual, não obstante o esforço, não conseguimos aquilatar, com segurança, o seu real valor em nossas vidas. Ter amigos é, em pobre analogia, possuir um céu no qual sempre haverá estrelas luzindo. É ter, em momentos de instabilidade, um forte braço a sustentar-nos, sem, contudo, arvorar-se a fazer por nós o que é, inexoravelmente, inalienável; é, em suma, a certeza de que ainda que as dores sejam acerbas, os sofrimentos causticantes, ainda que a vida, impermanente, se nos proponha mudanças incoercíveis, o calor de um regaço amigo continuará a ser o querido oásis o qual todos desejem ter, e no qual todos anelam estar.
Assim, é nobre ter amigos. Entanto, há algo mais nobre, mais bonançoso, mais magnânimo do que ter amigos perante a vida. Esse algo é Ser amigo.
Ter amigos, por mais dúlcido que nos torne a existência, a maioria esmagadora das vezes, atende aos nossos interesses próprios, conquanto naturais tais interesses. Ser amigo, todavia, é reivindicar dos seus próprios interesses, no que concerne a sua individualidade, endossando aquilo que é do interesse coletivo, desde que, é claro, tal interesse não fira o decoro.
Ser amigo requer virtudes. Ter amigos, a mais das vezes, exige apenas a arte da dissimulação e da conveniência. Dessa forma, não nos importe a falta de amigos. Outrossim, incomodemos-nos se encontrarmos-nos privados de ser amigo de alguém. Ser amigo é mais importante do que ter amigos.