À Música
Cedo acordei com a notícia do seu encantamento! Pensei...
Todas as orquestras celestiais estavam indóceis, por sua demora, para iniciar o grande ensaio: você...sempre ao piano!
Aqui, você encantava a todos, com os Noturnos de Chopin e quando não, Villa-lobos e Chiquinha Gonzaga.
Residi por muito tempo numa rua das Graças, onde pela manhã acordava sempre com seus acordes ao piano, às vezes solitária e outras vezes, acompanhada pelo violino do maestro Eagan.
Aqueles acordes me acompanharam no caminho de pedra por toda a minha vida.
De suas mãos brotavam sons celestiais, que à medida que ia sendo reconhecida entre seus pares, extrapolava o grupo restrito dos eleitos no panteão musical, para nacional e internacionalmente ser aplaudida!
Distante, eu acompanhava seu sucesso e reconhecimento, que faziam vibrar as cordas do meu coração.
Você é a personificação da música, quando esta, sendo cultura imaterial de uma sociedade, você consegue fazer este milagre!
Um dia, nos reencontramos e você me sussurrou:
“Amiga, a música para nós é o alimento da alma!”
Estas palavras, simples palavras calaram fundo em mim, como um segredo impenetrável, que só agora consigo externa-las para dizer:
- Vai Josefina vai, os anjos a aguardam neste instante de cartase com cânticos que conhece bem, num abraço amoroso que faz você transcender do mundo que a amou, musicalmente!
- Vai Música vai, expande a harmonia por sobre este mundo que está tão carente deste alimento para as almas humanas!
- Vai amiga vai, continua o destino dos poucos eleitos, no trabalho contínuo de encantar as almas sedentas por acordes maravilhosamente, musicais!
(No dia em que recebi a notícia do desencarne da grande pianista Josefina Aguiar)