Anjo Menino,
há silêncios e silêncios.
Neles nos conhecemos e
reconhecemos, no chão,
penas que eram asas.
Serafins depenados são mudos,
anseiam por palavras,
estas que nos faltam à boca
perdidas no céu escuro,
a espera dos nossos vôos angelicais.
Quando depenados, Anjo Menino,
Já não nos erguemos do solo,
a lira já não é tocada traquejante,
não se ouve as cordas vocálicas.
Os olhos fitam um infinito invisível,
os ouvidos não decifram novos sons.
No tatibitate dos nossos pensamentos
refazemos o instante do pouso forçado,
vasculhamos as áridas paisagens,
corremos rumo ao sol,
quando, por força inexplicável,
somos derretidos a um passo da criação.
À pele fina, fria, rugosa e ressequida
falta o viso da vida e, às costas,
aguardamos nova plumagem.
Aterrados em nós mesmos,
vivemos parte da jornada íntima, intransferível
e incompreensível para maioria dos mortais.
Sei que desse calar visionário,
as cores se transmutam
negras no dia, brancas na noite.
A inversão dos valores berra e cala.
É preciso recolhimento nessa curta passagem.
Canta e chora a troca das plumas - inexorável!
Não te assustes, Anjo Menino,
assim estas coisas acontecem.