A ALVA
Sob o olhar secreto,
discreto ao ponto de não ser
o que se pode crer,
na escura e sombria alva.
Antes clara, a alva se perde
no eu interior de alguém irreal.
Embora acesa, se faz obscura,
embora segura, nunca pura,
a alva se perde, se apaga insegura.
À luz do querer, procura
algo para seu suporte inexistente,
impotente por não viver
o que é preciso, se faz turva.
A alva imatura, insegura
não se ascende por não poder brilhar,
porque sonhar é menor que viver
e existir é mais que querer.
Mas é bem maior o poder sonhar,
do que não se permitir existir.
É melhor existir, assim, aos poucos,
do que passar pela vida
sem a encontrar!