RECADO VIRTUAL DE PRIMAVERA

(para Lilipoeta, em Curitiba/PR)

Bonomia e prontidão de alma estimulam ao insolente poeta que me habita, ativando o mais amoroso carinho nesta primavera carregadinha de flores nos ipês e jacarandás.

Bem aqui, quase ao alcance da mão, nos brotos de um desnudo jacarandá, penugens em marrom e verde, uma andorinha saltita entre o fio do transformador de eletricidade e o azul do horizonte.

A árvore, surrealisticamente montada sobre o letreiro em néon do GULLAS GRILL, identificador do restaurante (antes quase morto de noites e presenças), parece querer contar que o frio bateu a porta e se foi, numa despedida sem volta.

Aqui, bem aqui na janela do observador, empoleirado no pombal de quatro andares, o olho mágico do computador pisca na cara do internauta, e um vírus muito feio mostra a língua. Seus dentes consomem a insânia de amar o mundo travestido de malmequeres.

E a Lua tímida, se esconde atrás do arranha-céu com um sorriso de Setembro. Está perdendo os dentes, pois está velha e sofre de icterícia. O que se vê é somente o amarelão de suas bochechas.

Talvez possamos pedir ao senhor dos mundos que, manhãzinha, quando ela também se for, que não bata a porta na cara dos que ainda acreditam na vida.

A chuva chega com a sua sombrinha de prata e o arco-íris lança o seu espectro sobre o algodão do céu.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre a Prosa e a Poesia, 2006.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagensdeamizade/55558