A UM CARO AMIGO DO RECANTO



 
        Não vou citar teu nome porque sei que não gostarias disso, reservado como és. Não poderia deixar de por aqui, hoje, alguma palavra para ti, pequena palavra que seja, uma palavra que talvez nem chegues a ler.
         Caro, os tempos têm estado, há muito, severos, severinos para ti e para mim. Por razões parelhas e por razões diversas temos vivido em bem grande e acerba solidão. Não nos vemos há tempos, temos tido um grande pudor e reserva para nos encontrar porque isso implicaria em olhar de frente o olhar um do outro e ver em ambos os olhares a dor e o desamparo de ambos refletidos.  
        Escrevo tentando dentro de mim encontrar uma palavra bela e leve para te dizer. Admito que não é nada fácil. Então, começo por dizer que o teu destino me importa. Apesar das distâncias, é preciso que saibas: o teu destino  me importa.
        Que mais consigo dizer? Que a vida ainda te permita, ao menos, tréguas, hiatos de alegria e de paz. Que saibas percebê-los e vivê-los, no tempo em que surjam. É o que eu desejo para mim. E mais não sei dizer.
         Deixo-te com a bela imagem desses pássaros em migração para outro verão. Para outro verão, amigo meu.
Beijo da amiga de sempre, Zu.