RESISTÊNCIA SEMPRE
Resistência sempre
( Respostaao poeta José Geraldo Martinez)
Discordo de ti meu amigo Martinez...os sabiás cantadores não partiram!
Disfarçaram-se de poetas, transmutaram as asas em dedos que digitam,
substituíram os trinados de seu canto pelo encanto dos versos.
Os sabiás ainda cantam amigo, cantam as decepções, os medos e as
angústias, inda que seu canto seja hoje escrito com lágrimas de sangue
que lhe escorrem pela face, inda que seu canto hoje seja o da desolação,
inda que hoje a laranjeira não esteja mais tão florida.
E junto aos sabiás, meu querido amigo, grita o bem-te-vi...apontando
o que parece escondido e esquecido...
O uirapurú canta seu lamento choroso por tanto desamor...
Os papagaios e araras, quiçá as maritacas, gritam em desalinho
pintam-se das cores deste Brasil enxovalhado de tantos problemas.
Os poetas passarinhos, tal qual o beija-flor, carregam no bico a gota
de suas lágrimas, tentando combater as chamas da violência e do descaso.
Bem-te-vi, sabiá Martinez, e de teu pranto faço o meu...
Continuemos pois a cantar, seja em verso seja em prosa, para que nosso
canto, com maior ou menor encanto, possa fazer florir no peito de alguém,
seja aqui ou mais além...do amor a mais bela rosa.
Jorge Linhaça ( teu amigo bem-te-vi)
Texto de Martinez:
Lugar Comum:
É cair em lugar comum falar sobre a corrupção em nosso país. Aí estão as
mídias televisivas, escritas e faladas que, em todos os dias, abrem suas
matérias com uma nova notícia de mais um escândalo,com a violência, essa
guerra armada e travada entre bandidos e polícia. Mas, meus amigos , o que
não seria cair em lugar comum falar de tantos outros problemas que assolam
esse país onde os sabiás cantadores partiram há muito?Tudo é lugar comum,
onde as pessoas tornaram-se bem mais frias e acostumadas, de certa forma,
com tanta coisa ruim! Hoje, falar de coisas boas é estar na contramão de uma
realidade que vivemos, já nos sentimos saudosistas de um tempo não muito
distante quando nossas crianças faziam da rua, a extensão de suas casas,
enquanto seus pais distribuíam pelas calçadas as suas cadeiras em noites de
verão.
Veja onde chegamos, meus amigos, a lugar comum, falando de violência e
corrupção!Aquela velha indignação que nos ruborizava o rosto quando qualquer
notícia desse tipo nos surgia, hoje é questão de passado. Somos "passados"
literalmente pelo tempo e também por bestas, na atual política daqueles que
levam vantagem em tudo. Começamos pelo topo da pirâmide e a seu final,
tornou-se questão cultural.Falar de seriedade neste país é cair em lugar
comum! Que raiva! Que raiva! Tudo é cair em lugar comum? Calar-nos diante
dos fatos poderia acabarmos em mesmice! Apareceria um silêncio malfeitor,
malígno e altamente mortal para toda sociedade e democracia...Corrermos este
risco à medida que as pessoas vão achando normal e cotidianana as más
notícias e se calando dentro delas é ditadura imposta por nós mesmos, pelos
dias e dias convivendo com tudo isso.É necessário gritar a todo pulmão essa
realidade que vivemos e todos os seus problemas que surgem através da mídia,
qual novela anunciada com horário nobre. Seguir à risca : "Agua mole em
pedra dura, tanto bate até que fura", sob pena de caírmos na mesmice! Pelo
amor de Deus, clamamos por um fato novo! Que nos devolva o brilho no olhar,
o sentimento de orgulho de sermos brasileiros! Que melhore a nossa
auto-estima e revigore o nosso ânimo de viver. São tantas mazelas por este
Brasil afora que comprime, mata no ninho qualquer brotinho de esperança de
uma mudança radical.Fato novo?Vejamos...a camada de ozônio sufoca os
noticiários: lugar comum! Agora, um fazendeiro brasileiro com uma ótima
idéia, planta árvores, madeira de lei, em suas terras e ganha bônus do
Japão, isto quer dizer, dinheiro! Ah, meu Deus, que isso caia em lugar
comum...Quiçá as nossas florestas estariam salvas.Formula 1, aos domingos:
lugar comum! Agora, surge Felipe Massa uma nova esperança! Quem sabe a gente
não possa mudar o tema da vitória? Aquela música era do Sena...Impossível!
Tem certas coisas e fatos que nunca caem em lugar comum. Relembrá-las é nos
remeter direto a alegrias vividas e sentidas, apesar de Felipe Massa ser um
fato novo...Polêmica à parte, assim como Pelé o foi, Romário o é : mil. É
preciso que se mudem as atitudes para acontecerem os fatos.Dentro de nós
ainda grita aquele jovem de cara pintada pedindo o impeachemant de Collor,
os mesmos que enfrentaram a tirania da ditadura e foram mortos e calados
pela repressão dentro de nós, ainda está o brasileiro que festejou um dia a
eleição de Tancredo Neves Aquele homem sem terra que caminhou a Brasilia,
aquele sem teto que gritou por uma moradia e quantos metalúrgicos,
professores e classe operária deste país ainda habitam dentro de nós?
Estamos murchos, encolhidos e sem esperanças...Só não podemos perder a voz,
a coragem de gritar e ainda nos emocionar com um fato corriqueiro, porém
grave, exibido em nossa televisão, nos indignarmos com a violência, a
educação, o desmando com a causa pública, a corrupção, a deteriorização da
ética, da má distribuição de rendas, da política e dos costumes...
Mesmo que em lugar comum, gritemos os abusos todos! O fato novo? Seria
trazer os velhos fatos de volta. A família, a religião, a compaixão para com
o próximo, as alegrias baratas de um tempo, os políticos com ideais...As
velhas cadeiras nas calçadas e os jovens em paz por nossas ruas. O novo?
Trazer o velho de volta!
Reconstruir um Brasil onde cantava o sabiá!
José Geraldo Martinez