MUITA VERGONHA EM MIM, M.J.L.



 
          Confiaste em mim, indicaste meu nome. Eu não consegui realizar a tarefa proposta e aceita por mim. Nunca, jamais antes na vida havia deixado de cumprir minha palavra; jamais havia, antes, deixado de cumprir uma tarefa profissional. Não ouso mais te olhar nos olhos, meu amigo. Não ouso mais. Perdoa-me. Espero que estejas bem, do fundo do coração. Neste tempo da vida, um dos meus nomes é vergonha, o meu nome mais proeminente, o único que me consigo ler com clareza nos tempos do agora. Muito dificuldade, muita, para olhar-me também nos olhos... O espelho... Deus, que testemunha terrível!
               Se alguém que me venha a ler pudesse, realmente, saber do que falo, talvez dissesse: "Não seja tão radical, tão feroz no julgar-se a si própria." Ocorre que eu sou mesmo assim, no que se refere a questões de honra. Sou assim comigo, essencialmente. Os outros... sou ninguém para estender meu julgamento implacável aos atos e palavras dos outros, o que não significa que eu espere recíprocidade: raros os seres da minha vida que me julgam com alguma indulgência... mesmo com alguma piedade (já seria alguma coisa): são raros e poucos. Não me refiro a ti, M.J.L. Não me refiro a ti, de jeito nenhum. Espero que estejas bem.