OUTONO
Kátia Storch Moutinho

Dispa-me, disse-me ela,
olhando os galhos.
Ele perguntou: - Por que?
Uma lágrima rolou e ela disse: 
- Preciso desprender-me para renascer.
 

Os galhos indecisos e receosos
temendo que dores causariam
insistem em questionar às folhas
tamanho ato de dor e nudez
e assim nada se fez.

Explicou-lhe que elas, as folhas,
diferente deles, galhos
nascem para partirem logo
deixando espaço para outras amigas
com novos matizes enfeitarem os galhos.
 

Os galhos então chorosos
disseram que já sabiam
desta curta estadia
mais que sempre choravam
quando as folhas partiam.
 

Outono da minha vida
onde desfaço as feridas
abraço os que estão a chegar
despeço dos que irão partir
aceitarei o novo ciclo que irá surgir.
 

Sou esta árvore , folhas, seivas
que muda a cada estação
vou despindo as securas
fazendo-me nova nesta reconstrução
com mais viço e brandura.
 

Como dói despir-me mas
como me afaga a brisa nova.
Meu olhar procura o horizonte.
É sempre difícil escolher
um novo caminho a percorrer.
 

Que seja leve como uma folha ao vento, este meu renascer.

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