A CHAVE SOBRESSALENTE - 2

NA MANHÃ DE 29 DE OUTUBRO DE 2013

Impossível decifrar o próprio enigma com a chave de outro, a chave de decifrar os seus outros próprios enigmas. A cada ser cabe chave única para decifrar-se o próprio enigma, para conseguir viver nele, dentro dele e suportá-lo, ao seu próprio enigma.

A cada um sua própria chave, nem que seja para achá-la no último dia de tudo: a chave original ou, no derradeiro caso, a chave sobressalente, aquela que serve para abrir, também, outros múltiplos enigmas, de demais seres. A busca por decifrá-lo, ao próprio enigma, nem que seja ao preço da mais incomunicável e irrepartível Solidão, ainda que Solidão vivida no meio de todos, sem que dela, Solidão, se dê (dentro do que for possível a quem a tenha) alarde a ninguém. Afinal, graças a Deus, nem todos têm o destino de lobo de estepe. Nem todos têm tal destino, graças ao boníssimo Deus.

Eu, loba de estepe, e ovelha por compromisso e por dever, ovelha solitária tanto quanto a loba; eu, que sempre permaneço, no ramerrão dos dias, sabendo que não tenho, em verdade e por direito, o direito pleno de pertencer a “clube algum que me aceite como sócia”, tal o dito por Groucho Marx, bem como não tenho o direito de pertencer plena nem meio-plena a mim mesma, sequer por dentro; eu, loba-ovelha ou vice-versa curvo-me, grata, diante dos que, por natureza e por direito adquirido pertencem a uma comunidade, a um clã, a um grupo, a uma família; curvo-me, pelas palavras e pelo respeito que recebo; curvo-me, profundamente, e profundamente agradeço, a todos e a cada um, seres todos do Recanto das Letras. Eu agradeço.