Um cara "sincero"
Eu tive um colega da época de palcos que falava tudo o que pensava. Não do jeito "eu sou autêntico e sincero". Não. Ele falava tudo mesmo. TUDO. Ele não era sincero, muito menos verdadeiro: ele não tinha noção mesmo. Faltava aquele filtro, aquele discernimento, aquele freio na língua que nos impede de falar tudo o que nos vem a mente devido a convenções sociais bobas. Ele soltava o verbo mesmo.
Hoje lembrei muito desse colega e dos inúmeros inusitados momentos que ele me proporcionou. Não sei bem porque eu lembrei dele, acho que foi a música que tocava na hora, pode ser. Só sei que muitos momentos vieram á tona inesperadamente. Acho que devo isso ao fato de que, no fundo, bem lá no fundo, por mais sincera que eu seja, eu não posso dizer TUDO que eu realmente penso e sinto. Porque não teria família, muito menos amigos, não teria pessoas ao meu redor, e etc. Ás vezes me bate uma vontade visceral de ser maluca TOTAL e sair falando o que eu penso, sem filtros nem moral. Seria caótico, claro. Dar vazão aos sentimentos mais absurdos e sair vomitando verdades. Certamente eu teria que enfrentar a dura realidade de também ouvir coisas as quais eu talvez não estivesse preparada para ouvir. E nunca estamos mesmo preparados para tal desastre. Não é mesmo?
Lembrei também que eu sentia uma atração por esse colega, que nunca me deu bola. (isso deve ser alguma célula infeliz que possuo, só pode!).
Eu sempre tive atração por gente "estranha". E sincera. Acho que, na época, a paixão com a qual ele exprimia suas verdades e as defendia com unhas e dentes (um bom eufemismo pra "falta de noção) me encantava. Ele era um cara bacana. Também era engraçado. Gosto de pessoas engraçadas.
Com o tempo fomos nos afastando... eu saí da banda e nunca mais tivemos contato.
Obviamente, isso não representa nada na minha vida. Foi apenas uma lembrança tola.
Só sei que, onde quer que ele esteja, devo a ele muitas risadas.