TRIBUTO AOS AMIGOS
Que amigos jamais nos sejam
Iguais à água, nos seus estados,
Quando líquida, se solidifica,
E, de sólida, se passe à gazosa,
De quente à fria evaporando-se,
E se transformando em chuva
De lágrimas de uma nuvem solitária
No céu parco do desprezo ermo...
Que não venham a nos serem,
Os amigos, iguais ao fogo, que,
De chama quente torna-se semi-ardil
Brasa morna, e depois à cinza fria...
Que não nos sejam, nunca e nunca,
Os amigos iguais ao vento que,
De rápido é violento e de lento é calmo,
Mas não se deseja tal rapidez e nem
Tal calmaria, se quer sim, meio termo
Contido em contínua brisa suave...
Que os amigos não nos se asemelhem
Como a lua, pois ela contém fases,
Lua nova, amizade nova,
Lua crescente, amizade crescente,
Lua minguante, amizade que miíngua,
Lua cheia, amizade sendo plena...
Que os amigos não nos sejam iguais ao sol,
Pois em dias de verão ardente,
No outono e na primavera se faz de morno,
E no inverno intenso se faz frio e congelante...
Por fim, que os amigos não se comparem
Às estrelas, pois umas brilham mais
E menos que outras, e que têm noites
Em que todas elas brilham...
Que a amizade sempre nos seja
Imparcial, coerente, atenciosa, ouvinte,
Conselheira e parceira, e se faça
Sempre presente no convívio comunitário
Da sociedade moral humana...