A QUEDA DA FOLHA

Um dia uma criança ia passando, menina de seus seis anos, e viu uma folha caindo da árvore –era uma mangueira frondosa, toda verde, carregada de manguinhas verdes. Ela olhou aquela folha caindo com toda atenção e tristeza.

Do alto de seus seis anos, ela ficou com lágrimas nos olhos enquanto sua mãe ia se distanciando. Estava sem forças, totalmente entregue à tristeza. Acompanhou a folhinha caindo, o vento a levava de um lado para o outro, até que ela chegou ao chão.

Foi lá, a pegou com todo cuidado, para não machucar mais, alisando-a. A fez repousar na palma de sua mão.

As lágrimas quase caindo de seus olhinhos e ela tentando ser forte, espírito materno. É preciso primeiro ajudar para depois chorar no silêncio aquecido do colchão, onde ninguém se entristecerá com nossa tristeza.

Virou-se, com todo cuidado. Sua mãe estava a deixando para trás, talvez com o pensamento distante. Ela olhou sua mãe, que seguia sem olhar para trás, olhou a folhinha em sua mão... e chamou, com cuidado para não ferir os ouvidos da folha: mamãe! Sua mãe não ouviu, era preciso chamar mais alto: mamãe!! Cuidou para que a folha não chorasse em sua mão, deveria estar dolorida com a queda.

Sua mãe se virou rapidamente ao ouvi-la gritar:

- por que ficou para trás, o que está fazendo aí parada, não sabe que tenho compromisso?

A menininha chegou-se à mãe, sem sofrer com suas reclamações, cheia dos cuidados para com a folhinha que parecia adormecida em sua mão:

- É que essa folhinha caiu do colo da mãe dela. Será que ela está sofrendo, mamãe?

Estava cuidando dela com todo carinho, parecendo ser sua filha. A mãe a observou, tirou a dureza de seu coração, já arrependida por ter reclamado com ela e respondeu:

- não, minha filha, você está cuidando muito bem dela. Coloque-a dentro de seu caderno e ela será eternamente uma folha, e suas marcas nunca morrerão.

- Ela não irá sofrer?

Perguntou ela, ainda com voz de choro.

- Não. Quando acolhemos alguém, estamos livrando esse alguém do sofrimento.

A criança a colocou no caderno, bem no meio, e seguiu feliz por ter ajudado aquela folhinha.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 12/03/2011
Código do texto: T2842619